DISCUTINDO O CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO E DIAGNOSTICANDO PROBLEMAS - COL. EST. AVELINO ANTONIO VIEIRA
Alessandra Vanessa de Souza; Anderson Barteli Batista; Adriana Bruginski Spinosa; Airton João Vachowicz, Carlos Alfredo Schwartz, Ceres Maria Ferralhi, Chrislaine Vitcoski Zoccoli; Cleusa Nunes de Oliveira Trinoski; Cláudio Pedro Paulo Rosa, Elizabete de Fátima Lopes; Florência Valéria Galastri; Heracto Kuzycz Assunção; Hélio Gonçalves Fernandes; Hilosi José Nunes Miamoto; Idalci de Azeredo Coutinho; Karen Christiane Bora; Maria G. Fernandes; Mariliza da Silva; Marcio Antonio Biscaia; Maria Aparecida Palmeira Silva; Maria Benedita se Souza Valente; Odete Sehnem Soares; Paulo Cesar Vieira de Lima; Paulo Henrique Soares Barone; Pedro Paulo Batista Toscano Junior; Roberto Carlos Klainubing; Roque Heloir Braun; Sara Maria Fermino Rocha; Sandra Janete Andrade de Melo; Sandra Marli Trindade; Sérgio Rodrigo de Souza Oliveira; Vanessa Cristina Gonçalves Rakowecky; William de Almeida
DISCUTINDO O CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO
E DIAGNOSTICANDO PROBLEMAS
As questões propostas no caderno III, do Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio, propõem discutir o currículo em todas as suas dimensões. Os autores do pacto partem da premissa que “as decisões sobre o currículo se instituem como seleção, e que esta não é neutra”, mas deve ser um produto do colegiado envolvido no processo ensino-aprendizagem.
Considerando esta premissa e as inúmeras questões norteadoras distribuídas ao longo do caderno III, o coletivo do Colégio Avelino Antônio Vieira, localizado na periferia de Curitiba, realizou alguns encontros com o intuito de diagnosticar os problemas relacionados ao currículo e ao seu processo de construção, tendo como pano de fundo a relação entre Educação, o ensino e a evasão escolar e, a relação entre o ensino, trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura.
Para iniciar a discussão foram propostas algumas questões: existe alguma relação entre o que ensinamos e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia da cultura? Quais os pré-requisitos que o mundo do trabalho espera ou exige de cada trabalhador? Produzimos conhecimento científico com nossos alunos ou, apenas, reproduzimos aquilo que já está pronto e acabado? Lança-se mão da cultura e da tecnologia como ferramenta a serviço do trabalho pedagógico ou se está perpetuando o ensino tradicional?
Um grupo defende que há relação entre o que ensinamos e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura, apesar de não se atuar de forma interdisciplinar. Isto é, cada disciplina tem operado como se fosse uma gavetinha independente, separada, e dessa forma isolada, trata com a ciência, com a tecnologia e com a cultura. Entretanto, pelo fato de não se atingir o sucesso esperado, isto não significa que nós não fazemos a relação entre o que ensinamos e mundo o trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura.
Há um conjunto de problemas que justificam a crise do ensino médio. Muitos dos problemas que atrapalham o ensino-aprendizagem estão fora do EM (Ensino Médio). Recebemos alunos do ensino fundamental com enorme defasagem de conteúdo, sem os pré-requisitos mínimos para a série, além de muitos deles estarem fora da idade-série. Mesmo assim, para a produção de conhecimento procuramos resgatar os conhecimentos prévios que os alunos já possuem. Alguns professores utilizam o questionamento oral ou escrito, outros utilizam imagens (fotografia, charges), poema... , mas os professores solicitam que, individualmente ou em grupo, todos se pronunciem sobre o que estão lendo ou vendo. Tudo o que vai surgindo é reunido e colocado na lousa.
De posse deste conhecimento, o próximo passo é relacioná-lo com o conteúdo do Livro Didático e problematizá-lo com a turma. No passo seguinte, o conteúdo é aprofundado com o texto de um autor consagrado no assunto e, novamente, comparadas as semelhanças e diferenças entre as ideias do autor e as do conhecimento prévio. Ao confrontar suas experiências, informações ou conhecimentos com as ideias de outros autores. É oportunizado ao aluno o direito de um tomar uma posição diante do que foi debatido e, assim, ressignificar, se necessário, o conhecimento prévio.
Na Matemática, por exemplo, onde se procura resolver problemas que exige determinados níveis de abstração no trato com os Números, a Álgebra, as Grandezas e Medidas, as Geometrias, as Funções e o Tratamento da Informação, como afirmar, então, que não há relação entre o que ensinamos e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura. Todas as disciplinas desenvolvem seus conteúdos, oportunizando ao discente desenvolver inúmeras habilidades, tais como:, desenhar, pintar, construir cartazes, maquetes..., interpretar, abstrair, descrever e produzir narrativas, analisar, comparar, selecionar, debater e criticar, justificar, a avaliar e tomar decisões, defender opiniões e apresentá-las ao coletivo. Enfim, por estas razões, podemos afirmar que existe relação entre o que nós ensinamos e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia da cultura.
Por outro lado, há outro grupo que discorda do que já foi citado. Para eles, embora os professores tentem fazer a relação entre o conteúdo e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia da cultura, o objetivo não é alcançado. Centramos nossas aulas no conteúdo que temos que vencer no bimestre para poder avaliar os alunos. Estes por sua vez, não encontram significados do que tentamos fazer com eles em sala de aula, pois não existe uma interação entre as “caixinhas” das disciplinas e as poucas ações que temos em conjunto com outras disciplinas são marcadas por controvérsias e conflitos entre os próprios professores e equipes pedagógicas. E quem é o maior perdedor disso tudo? O próprio aluno, pois em tese o professor não terá diferenciações monetárias em seu salário, independente de ser um bom professor ou desenvolver seu trabalho de qualquer forma. A longo prazo pagamos pela nossa ação descomprometida com a renovação do processo de ensino-aprendizagem, pois certificamos alunos que não têm a capacidade de pensar criticamente e são facilmente manipulados pela mídia, pelo consumismo e pelas forças políticas que se utilizam de informações manipuladas e covardes para conquistarem o que desejam.
Em vários momentos, a impressão que se tem é que a arte de ensinar está desconexa com a realidade que o mercado de trabalho exige. Frente a este choque de realidade e a discussão, os desafios propostos nas diretrizes devem ser repensados, pois a dinâmica da educação mudou e a mentalidade dos jovens também e, portanto, a forma de ensino necessita ser atualizada. As próprias propostas pedagógicas das escolas devem ser remodeladas coletivamente a fim de dinamizar e efetivar uma revolução na aplicação de práticas docentes eficientes com o objetivo principal de estimular e desenvolver a capacidade cognitiva do público discente como formadores de opiniões pautadas numa base consolidada por uma educação coerente e flexível.
Em todo este processo de mudança, concordamos que o professor também deve repensar sua postura como educador e priorizar a mediação em lugar da mera transmissão do conhecimento, cujo alvo deverá ser a formação integral do aluno. Com essas outras mudanças, a própria organização curricular ganha força na efetividade do ensino-aprendizagem.
Dando sequência nesta linha de pensamento, todos concordaram em passar a discutir a segunda questão, cujo teor, é: Quais as proposições que mais geraram debate após a leitura das propostas das atuais DCNEM (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio)? A que o coletivo escolar atribui que tenham sido essas questões as mais polêmicas? É consenso entre a maioria que a interdisciplinaridade foi a questão mais polêmica em função de não termos condições, no tempo e espaço escolar, de organizarmos o planejamento e o currículo com todos os professores da mesma disciplina quanto mais com todos os outros das demais disciplinas. Cada disciplina é vista como se fosse uma gavetinha independente, separada, e dessa forma, isolada, cada uma trabalha seus conteúdos.
Outro caso também é a ideia de não ofertarmos o EM (Ensino Médio) integrado, uma forma de dar uma significância do que o aluno aprende para sua vida, para o trabalho, para a ciência e para a cultura. Para a cultura até fazemos (ou tentamos) em momentos como a semana do Índio, semana Afro, semana da pátria e semana cultural.
O Ensino Médio atual parece não preparar o aluno para uma escolha profissional. Nas pesquisas realizadas para compor o artigo do caderno II, a maioria dos alunos respondeu que o curso não dá subsídios suficientes para que ele consiga escolher o que deseja para si.
A terceira questão discutida pelo colegiado tratava sobre a as finalidades da educação básica. Isto é, cada experiência vivida dentro e fora da escola pelo aluno, deve estar voltada a contribuir no desenvolvimento da sua autonomia intelectual e moral.
Em todas as disciplinas, observa-se que há a preocupação de dar total importância, ao desenvolvimento da comunicação e expressão. É consenso que o sujeito não chegará a lugar algum sem dominar esta habilidade (linguagem). Desde um simples cumprimento até uma entrevista para um emprego, ele deve mostrar que domina o uso da língua portuguesa, por exemplo, sabendo qual o tipo de linguagem deve utilizar, em que momento e para que público ou interlocutor esteja se reportando. Além disso, ao escrever um texto, é imprescindível que tomemos cuidado com o uso de gírias ou vícios de linguagem, pois há um jeito de falar e outro para escrever, ou seja, temos a linguagem coloquial e a linguagem formal. Portanto, devemos dominar a língua e estar atentos às novas abreviaturas da linguagem da internet, por exemplo, onde os códigos linguísticos de uma comunicação virtual nem sempre serão aceitos em um artigo científico. Já no que se refere à cultura, devemos aproveitar para disseminar os diversos falares, uma vez que vivemos em um país que em cada região se fala de uma forma e o mesmo substantivo tem nomes diferentes em determinadas regiões, como é o caso do”estojo” que aqui em Curitiba chamamos de “penal” ou da “salsicha” a qual chamamos de “vina”. Enfim, quando se fala em cultura, cada um tem a sua e devemos respeitar os diferentes falares, que somando com o nosso jeito de falar, vamos tecendo essa ”colcha de retalhos” em que se transformou e se transforma as disciplinas, pois a língua é viva e está em constante mudança e evolução e que somos resultado de nossa capacidade de se comunicar.
Assim como no Português, todas as demais disciplinas têm grande relevância, no desenvolvimento do raciocínio e da criatividade, da comunicação e interpretação. No aspecto social, ele é estimulado a respeitar as pessoas com quem convive dentro e fora da escola, a trabalhar individualmente e em equipe, a tomar decisões, a agir respeitando as opiniões dos colegas, inclusive, a tolerar aqueles com quem não têm muita afinidade. A entender que a vida em sociedade é movida por uma liberdade ampla e irrestrita, mas é limitada pela Lei. Por isso, dentro do colégio é cobrado deles o respeito pelas regras: a ser responsável com tudo o que lhe vier as mãos para fazer ou agir: enfim, ser pontual com os horários das aulas, com o prazo de entrega das atividades...
Temos ciência que o PPP (Projeto Político Pedagógico) do Colégio, documento que norteia nossa prática educacional enquanto educadores considera que o “aluno é fruto de seu tempo histórico, das relações sociais em que está inserido, mas é também um sujeito que compreende, atua e interage com a sociedade no mundo em que vive” .
Considerando as determinações do PPP, as disciplinas desenvolvem os conhecimentos em sala, desafiando os alunos a construirem conhecimento e relacioná-lo com o contexto sócio-histórico a qual está inserido, com o trabalho, com a cultura, ciência... a fim de que, sejam-lhes proporcionadas condições de se tornarem cidadãos críticos, ativos e autônomos, independentes no pensar e no agir. Talvez seja este um dos objetivos como professor. Prepará-los para participar do destino da sociedade e de si mesmo, enquanto cidadão que se prepara para o futuro. Assim como o PPP, entendemos que “a cidadania não é uma condição ou qualidade separada da aprendizagem escolar. É, antes de qualquer coisa, a aplicação prática daquilo que o aluno aprende nos conteúdos curriculares, é o conhecimento das ciências, das linguagens, das matemáticas, utilizadas de modo responsável, solidário e includente”. (BRASIL. 1999, p. 27).
A quarta e última convida professores e alunos a darem sugestões sobre o currículo da escola, sobre as experiências vividas mediadas por esse conhecimento e sobre a necessidade de outros conhecimentos e abordagens; conduza de modo a fazer emergir propostas, sugestões considerando as dimensões do trabalho, da ciência, da cultura e da tecnologia.
Apesar de 38,2% considerarem EM, fraco. Que o EM necessita de reformulação urgente porque o curso não oferece uma referência para que o estudante possa proceder à sua autoavaliação com vistas às suas escolhas futuras, tanto em relação ao mercado de trabalho quanto ao Ensino superior. Que é péssima a qualidade da educação, que há uma distância enorme entre o ensino e a realidade vivida por eles, não citaram nenhum conteúdo para ser incluído no currículo.
É consenso entre todos que deve-se identificar as situações problemas presentes na comunidade escolar porque atingem diretamente os alunos desta instituição, para tanto, o PPC desta, enfatiza a utilização de ferramentas que comtemplem o eixo trabalho, ciência, tecnologia e cultura.
Na página 45 do PPC do Colégio Avelino Antônio Vieira está enfatizado o uso das tecnologias e ainda consta que, a escola, como instituição voltada para a democratização do conhecimento e formação de cidadãos, hoje, numa sociedade globalizada, deve-se tratar as tecnologias de informação e comunicação em seus Projetos Pedagógicos, como instrumento fundamental de uma educação comprometida com o desenvolvimento da autonomia intelectual do aluno da escola pública, proporcionando a inserção do aluno no mundo tecnológico.
Quanto a novos desafios na página 48 destaca-se que é preciso buscar novos conhecimentos para planejar e reorganizar a prática educativa chamando ao currículo novas temáticas como: combate à violência, uso indevido de drogas, educação ambiental e relações étnico-raciais sem comprometer a real função da escola. Sugere-se, também, acrescentar que se conste no currículo estudo sobre tributo e cidadania tributária (sonegação fiscal), gravidez na adolescência. São carências sociais concretas que necessitam de enfrentamento da mesma forma como está sendo feito com a discriminação de gênero, de raça, sexo...
Quanto a cultura na página 48 está posto que o currículo é uma construção social, um fenômeno histórico resultante de um processo dinâmico, sujeito às múltiplas influências: práticas políticas, sociais, culturais e pedagógicas do interior da escola, da comunidade e do mundo. É uma manifestação cultural construída na prática pedagógica de forma coletiva.
Quanto aos pressupostos para um Currículo Inovador de Ensino Médio, o referido PPC consta com uma organização curricular que atende a Educação Básica. Contudo especifica que, o avanço na qualidade depende fundamentalmente do compromisso político e da competência técnica dos professores, do respeito às diversidades dos estudantes jovens e da garantia da autonomia responsável das instituições escolares na formulação de seu projeto político-pedagógico.
Na organização curricular deste vê-se a organização das disciplinas, articuladas com atividades integradoras, a partir das inter-relações existentes entre os eixos constituintes do Ensino Médio, ou seja, o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura, tendo o trabalho como princípio educativo.
Na proposta do SISMEDIO, ao tratar das Dimensões para um Currículo Inovador segue a legislação em vigor, as Diretrizes Curriculares nacionais e as dos respectivos sistemas de ensino.
Assim, é viável seguir as sugestões/propostas do SISMEDIO, quanto a ser o projeto político-pedagógico de cada unidade escolar materializado no entrelaçamento entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura, com indicativos, tais como:
• Contemplar atividades integradoras de iniciação científica e no campo artístico-cultural;
• incorporar nas práticas didáticas, como princípio educativo, a metodologia da problematização como instrumento de incentivo à pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao desenvolvimento do espírito inventivo;
• Promover a aprendizagem criativa como processo de sistematização dos conhecimentos elaborados, como caminho pedagógico de superação da mera memorização;
• Promover a valorização da leitura em todos os campos do saber, desenvolvendo a capacidade de letramento dos alunos;
• Fomentar o comportamento ético, como ponto de partida para o reconhecimento dos deveres e direitos da cidadania, praticando um humanismo contemporâneo, pelo reconhecimento, respeito e acolhimento da identidade do outro e pela incorporação da solidariedade;
• Articular teoria e prática, vinculando o trabalho intelectual com atividades práticas experimentais;
• Utilizar novas mídias e tecnologias educacionais, como processo de dinamização dos ambientes de aprendizagem;
• Estimular a capacidade de aprender do aluno, desenvolvendo o autodidatismo e autonomia dos
estudantes;
• Promover atividades sociais que estimulem o convívio humano e interativo do mundo dos jovens;
• Promover a integração com o mundo do trabalho por meio de estágios direcionados para os estudantes do Ensino Médio;
• Organizar os tempos e os espaços com ações efetivas de interdisciplinaridade e contextualização dos conhecimentos;
• Garantir o acompanhamento da vida escolar dos estudantes, desde o diagnóstico preliminar, acompanhamento do desempenho e integração com a família;
• Ofertar atividades complementares e de reforço da aprendizagem, como meio para elevação das bases para que o aluno tenha sucesso em seus estudos.
• Ofertar atividades de estudo com utilização de novas tecnologias de comunicação e informação;
• Avaliar a aprendizagem como processo formativo e permanente de reconhecimento de saberes, competências, habilidades e atitudes.
Consta ainda do PPC que a organização curricular deve propiciar a necessária interação entre as diferentes disciplinas, de forma que os alunos possam perceber a lógica da produção e transmissão do conhecimento, que não deve ser confinado em disciplinas estanques, que não se comunicam e não se inter-relacionam.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA E TECNOLÓGICA (1999): Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio: bases legais. Brasília.
PPP (Projeto Político Pedagógico) do colégio Avelino Antonio Vieira.
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