Discussões do Pacto levadas aos demais professores do Colégio Estadual José de Anchieta, no município de Planalto-PR¹

Poucos temas são tão complexos, polêmicos e ricos como a Educação. Ela tanto pode ser vista de uma perspectiva ampla e filosófica, como estudada com base em exemplos concretos retirados da sala de aula. Acreditamos que é justamente com essa proposta de estimular a diversidade de pensamento que o Pacto promove esse “repensar” sobre as estruturas que sustentam o Ensino Médio no Brasil. Numa proposta de contextualização, procura associar os conhecimentos empíricos (que os alunos concebem), aos científicos ensinados pelos docentes. Dando ênfase à formação de docentes reflexivos, que concebam a educação como um fenômeno interativo entre aluno/professor/sociedade, o programa promove discussões acerca e principalmente, das relações dos sujeitos com as diversas formas de saber, com o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura.

Os saberes hoje ensinados aos alunos, principalmente do ensino médio, muitas vezes distanciam-se da realidade, o que torna difícil a prática do ensinar. Não há interesse do aluno em aprender algo que não condiz com suas reais necessidades. Por isso, consideramos ser importante que as disciplinas curriculares, orientadas pelas DCNEM, procurem se articular com a práxis do educando, sugerindo que o mesmo busque, através do estudo e da instrumentalização, respostas para seus problemas. Compreendemos que estes saberes não devem ser moldados pelos padrões impostos pelo sistema econômico, que obedece a um modelo produtivo, mas que sejam focados numa perspectiva “libertadora”, auxiliando o aluno a conhecer o seu lugar e papel sócio espacial, compreendendo as relações de poder presentes nas organizações humanas. Sob este pensamento, concordamos que os conhecimentos a serem oferecidos ao sujeito/aluno não devam ser organizados de forma fragmentada, dificultando a compreensão do todo. No entanto, ressaltamos que as especialidades de cada disciplina e área do conhecimento são importantes para essa compreensão. Sendo assim, consideramos necessário um agrupamento de tais conhecimentos, afim de que haja o diálogo entre disciplinas de uma mesma área do conhecimento, e entre disciplinas de áreas do conhecimento diversas, levando o estudante à compreensão do conhecimento em sua totalidade, tornando-o um sujeito pesquisador e construtor do conhecimento, outorgando-lhe seu papel de transformador da realidade.

Nossos educandos vivem num momento de muitas informações, de fácil acesso e sem muitas explicações. Esses recursos fazem parecer que tudo deve ter um resultado imediato. É raro ver jovens interessados em ler um livro na íntegra, e quando a ação pedagógica é com alunos do noturno, o desafio ao educador é ainda maior. Antes mesmo de conseguir a atenção dos alunos para a importância da aula, tem-se que despertar neles o interesse por estudar. É neste contexto que está a necessidade urgente de o conteúdo escolar ter uma relação integrada, para que o aluno veja sentido no processo formativo, fazendo a relação da teoria com sua prática. Entendemos que todo conhecimento aprendido envolve uma relação entre sujeito e objeto, e é fundamental que o aluno perceba que todo conhecimento tem um diálogo com outros conhecimentos, que é necessário conhecer o local, mas ter condições de fazer relação com o todo. Para isso, acreditamos ser interessante pensar numa reorganização do currículo, a fim de que, as diferentes áreas possam trabalhar de forma interdisciplinar em busca de melhorias no processo de ensino, garantindo a aprendizagem do sujeito.

Por considerarmos um dos grandes problemas enfrentados hoje no processo de ensino-aprendizagem, conforme já apontado anteriormente, os vastos canais de informações que rodeiam os sujeitos, frequentemente nos perguntamos: como competir com esses canais de informações? Tornar as aulas mais atrativas é a solução? Precisamos de didáticas novas? Sob estes questionamentos e muito debate, o grupo do pacto aproveitou o espaço de uma reunião pedagógica para desenvolver com todos os professores, um trabalho envolvendo os conceitos de contextualização e interdisciplinaridade.  Constatou-se necessário tornar público aos demais professores do Colégio Estadual José de Anchieta – EFM, as discussões suscitadas pelos estudos realizados na formação do Pacto pelo Fortalecimento do Ensino Médio. Na ocasião, os conteúdos “ditos” fragmentados pelas disciplinas, foram aproximados de forma que fizessem mais sentido para os alunos. De uma forma lúdica, os professores foram desafiados a conversar sobre os diferentes saberes das diferentes disciplinas e, a partir de pontos comuns, reorganizarem-se a ponto de conhecimentos afins e complementares serem trabalhados num mesmo momento e numa mesma série. Depois, precisaram representar em cartazes, com desenhos e pinturas, as ideias que surgiram durante as discussões. Foi um pequeno e divertido exercício, mas os resultados foram bastante positivos. A interação entre disciplinas é mais uma forma de especialização para os professores, não só pela proximidade com algo não trabalhado com frequência, mas também pelo contato com as formas de trabalho e didáticas dos diversos professores, o que nos lembra a necessidade de flexibilidade na profissão.

Este trabalho propiciou a compreensão de que a contextualização torna mais palpável para o aluno os diversos conteúdos que compõem o currículo escolar, apesar de que, na contemporaneidade é complicado integrar o conteúdo trabalhado em sala, contextualizando-o com a realidade. Os estudantes são imediatistas e se deparam com saberes que não se encaixam com suas necessidades. Por isso, a busca por aplicação e contextualização do conhecimento é constante. Como educadores, almejamos formar jovens críticos, capazes de entender o processo de dominação empreendido pelas classes dominantes e os sistemas de produção com sua lucrabilidade, usada para impor e dominar. Mas percebemos que, cada vez mais o resultado do trabalho da classe massificada e subordinada historicamente, tem contribuído para o acúmulo de capital de poucos, e vemos na formação social, por meio de uma educação crítica e libertadora, um caminho.

Nesta perspectiva e depois de tantas leituras e discussões, entendemos que a organização interdisciplinar pode contribuir para esta formação desejada, desde que entendida numa visão mais ampla e aberta, abrangendo o conhecimento científico que está por trás de cada disciplina e possibilitando uma aproximação entre seus diferentes conceitos, para que possa resultar, efetivamente, na compreensão do real. Tal aproximação é, sem dúvida, uma excelente ferramenta a ser desenvolvida e aprimorada, já que muitas vezes os conteúdos parecem estar tão longe da realidade do educando. O que estamos construindo em nossos encontros do pacto é algo muito produtivo, pois nos faz refletir e debater entre as várias disciplinas, ações que possam interligar nossos conteúdos, de maneira articulada e associando-os com situações vivenciadas no cotidiano dos alunos, numa relação com um conhecimento mais amplo do mundo que está a sua volta. Porém, enquanto grupo, não podemos deixar de registrar que essa reflexão que estamos fazendo agora no pacto requer continuidade e a participação de todo o corpo docente. Esperamos que sejam oportunizados, no decorrer do ano, e dos próximos que virão, mais encontros que possibilitem uma compreensão ainda maior sobre o papel da interdisciplinaridade e da contextualização na (re)estruturação curricular que se deseja. Esperamos por muitos momentos de estudo e troca de ideias, caso contrário, será apenas mais uma ação isolada e paliativa para salvar a educação que, a tempos pede socorro.

Ao final, apresentação das atividades.