Desafios que permanecem para o ensino médio na realidade brasileira.

Análise filosófica sobre os desafios que permanecem para o ensino médio na realidade brasileira.

 

Segundo o texto ainda permanecem alguns grandes desafios para o Ensino Médio que, tradicionalmente sempre foi caracterizado por ser excludente. Sua função sempre foi de mediar o acesso ao Ensino Superior a uma parcela privilegiada da sociedade.

Apenas recentemente, a partir da LDBEN de 1996, houve um primeiro impulso na tentativa de expandir o seu acesso. Ainda que o acesso atual seja mais amplo do que nunca, não conseguiu alcançar estatísticas que deem solidez a sua pressuposta expansão. Consequência disso é o objetivo firmado no Plano Nacional de Educação de universalizar o atendimento escolar e alcançar uma taxa de matrículas de 85% até daqui a dois anos. Somando-se ao triste cumprimento desses objetivos, ainda se mantém no Ensino Médio uma das mais altas taxas de desistência de qualquer etapa do ensino, senão a maior de todas as etapas. Se formos considerar os problemas do ensino médio podemos acrescentar a grande quantidade de alunos repetentes ou desperiodizados com sua idade e a série que cursam.

Se for observado o histórico do Ensino Médio, como apresentado no texto analisado, podemos perceber que a educação brasileira sempre teve objetivos políticos, governamentais e sociais bem estabelecidos, por mais excludentes que fossem. Porém o projeto estabelecido desde a nova constituição em 1988 rompe com essa história. Ao afirmarmos que o objetivo da educação está na formação humana integral, fugimos do campo da praticidade e da objetividade e caímos no campo da ideologia com grande risco de cairmos na utopia. Claro que, como afirma Isaiah Berlin, a utopia é uma “imagem desiderativa do presente” e, portanto tem validade social no que indica o desejo que temos para a sociedade. Assim a utopia se apresenta como um plano e, ao contrário do que afirma a maioria dos críticos, a utopia pode parecer como tal em seu período mas nada impede de ser realizada em outro momento ou espaço. Porém não podemos condenar o presente pelo futuro. Nesse aspecto falta ao Ensino Médio um objetivo específico e claro que se torne atraente às pretensões da sociedade em que essa escola está inserida.

O projeto da Lei de Diretrizes e Bases do Ensino no Brasil coloca como um objetivo de formação humana integral para o ensino médio. Talvez o cerne do problema encontra-se já no objetivo proposto. Esse objetivo parece uma desculpa generalizante e mal elaborada. Quando nos referimos a uma formação humana sou obrigado a crer que a educação por natureza já é um elemento de humanização. Sua proposta, que remonta a proposta dos iluministas e em especial de Jean-Jacques Rousseau, era a busca da iluminação e do esclarecimento.  Portanto a educação é e sempre será, por princípio e apesar das distorções feitas a ela, humana. Quando nos referimos a formação integral novamente caímos na gafe de usarmos um termo que pode não referir a nada dentro de seu texto. A integralidade propõem um conhecimento dogmático e a capacidade humana de entender tudo em sua essência e aparência. Os céticos questionariam a qualidade desse termo. 

Fugindo do debate filosófico destaco como essa concepção foge do âmbito da sociedade. Assim como esse texto rapidamente fugiu para um imaginário filosófico ao tentarmos explicar esse objetivo educacional, este foge da realidade e da objetividade que se procura na educação por parte da sociedade. A sociedade é mais objetiva e prática que as leis ou as políticas. Para termos a aceitação da sociedade e a pretensão das famílias para seus filhos, o ensino médio precisa se fortalecer através de objetivos claros e bem específicos. O ensino técnico costuma ter mais sucesso, do meu ponto de vista, nesse aspecto, pois ele tem um objetivo específico e claro. Ninguém dúvida por que certo aluno escolheu fazer certo curso. Para o próprio aluno o objetivo está presente. Agora o que objetiva alguém a fazer o ensino médio?  Sem objetivo compreensível o desinteresse será evidente.

Prof. Rodrigo Wünsch Manika

Colégio Estadual Hildebrando de Araújo