Desafios e reflexões sobre o Ensino Médio

       ​O grande desafio que ainda permanece para o Ensino Médio é a questão da evasão escolar. Como evitar, ou pelo menos, diminuir esse índice? Várias são as causas, porém o que mais se revela preocupante é a falta de motivação dos alunos. Assim, o desafio maior para a escola é criar um ambiente mais atraente e acolhedor, desde o ensino fundamental.
       ​É frequente ouvir dos alunos que não gostam de estudar, não gostam da escola.  Como incentivar esse aluno a olhar a escola, o estudo com maior interesse?    ​Mostrar ao aluno que a escola é importante, que o estudo não apenas pode lhe garantir uma melhor qualificação profissional,  mas que também é de grande importância para a sua formação humana e integral.
        ​Não dá para falar de melhorias para o ensino médio, sem olharmos o ensino fundamental de maneira mais aprofundada também, pois um dos problemas enfrentados no Ensino Médio é a falta de base, em termos de conhecimentos que são   pré-requisitos e específicos   em determinadas disciplinas e que acarretam a falta de motivação por parte do aluno. Desse modo, se compararmos a formação do aluno, com a construção de uma casa, em que a fundação é a parte mais importante, veremos que as casas (nossas escolas) estão com sérios problemas estruturais.
​         Isso nos leva a elencar outro desafio: “Como conscientizar o aluno da importância do estudo para sua formação humana e de que modo ofertar essa formação humana? Como e com quais propostas construiremos uma escola um tanto mais dinâmica e atraente para esse aluno sentir-se parte dela?”
         O que invariavelmente tem acontecido é que muitos alunos chegam ao ensino médio mal fundamentados, sem aprender tudo o que deveriam no ensino fundamental. A esse respeito, podemos citar entraves como o comprometimento das famílias, a rotatividade de professores, a formação precária de alguns profissionais e a progressão automática que não leva em consideração o preparo do estudante. Isso fica muito claro quando usamos os resultados da Prova Brasil, as Olimpíadas da Língua Portuguesa e as de Matemática como medida de avaliação do rendimento escolar.
         Antes mesmo do Ensino Médio, já no segundo ciclo do ensino fundamental, nos deparamos com muitos alunos entediados, que veem a escola como um ambiente sem atrativos, o qual frequentar é uma “chata” e irremediável obrigação.
         ​Pensar em conhecer a realidade do nosso aluno é um fator que pode vir a ser produtivo e auxiliará na elaboração de propostas inovadoras. Realizar um levantamento sócio/econômico/cultural por meio de pesquisa/questionário é uma das metas para que tenhamos uma visão da clientela que atendemos. A partir dos resultados obtidos poderemos traçar objetivos para que, dentro da realizade da escola, se consiga avançar no sentido de tornar o ambiente mais atrativo e acolhedor.
         ​Consideramos que o campo de “trabalho” acaba sendo mais atrativo para o aluno adolescente/jovem, pois traz a recompensa imediata que é o salário (por menor que seja) e com esse salário ele pode satisfazer as suas necessidades imediatas.
          ​Os jovens vivem o “aqui e o agora”, sem a preocupação com o futuro. Muitos não têm expectativas de algo melhor em suas vidas lá na frente, pois a realidade (ou o passado) trouxe-lhes experiências desastrosas, como nos relatam sobre as suas lamentáveis vivências. Desse modo, qualquer coisa está bom para eles, não sonham alto. Fica muito difícil ambicionarem algo mais diante das estatísticas que teimam em desencorajá-los.
​          Fazer com que os alunos tenham uma visão do estudo como algo abrangente e necessário para a sua formação é competência/função da escola e de seus profissionais. Não basta apenas oferecer conteúdos elencados no currículo, é essencial contextualizar esses conteúdos à realidade, sem no entanto, precarizá-los. Qualquer conteúdo deve ser mostrado e enriquecido, trazendo o aluno para a reflexão, para o entendimento.
​          Não dá mais para termos atitudes de indiferença, “se eles não querem aprender não temos como ensinar”, se falta-lhes estrutura social/afetiva, é a partir daí que começa a ação do educador propriamente dita. O saber não pode estar restrito ao conteudismo, temos o dever de buscar algo a mais, mesmo com todas as dificuldades que temos no nosso cotidiano. Estaremos sempre diante de nossos alunos e com o nosso trabalho poderemos fazer a diferença no futuro de cada jovem. Os bons exemplos que faltam para muitos em seu próprio lar, podem ser visualizados em cada professor, pode ser ele o modelo a ser seguido.
​           Quanto a universalização do Ensino Médio, os fatores históricos demonstram que essa modalidade sempre esteve restrita à elite. É recente a presença de tantos jovens de todas as camadas sociais nesse nível. Por isso, somente será possível essa universalização quando houver o comprometimento de investimentos na base (Ensino Fundamental), principalmente na fase da alfabetização.
​            Há de se fazer investimentos na formação e remuneração de professores alfabetizadores para que essa fase seja significativa na vida da criança. Hoje nos deperamos com aspectos desmotivadores entre profissionais desta fase. Quanto às novas tendências didático pedagógicas que são implantadas (os tais modismos), observa-se que limitam muito o trabalho e a criatividade do professor alfabetizador e a criança cada vez mais fica prejudicada e despreparada. Em alguns casos não se consegue atingir o mínimo necessário para o avanço aos anos seguintes, mas mesmo assim os alunos são conduzidos à próxima etapa e os danos irreversíveis. Vem daí, desde essa fase, o analfabetismo funcional, pois sem alfabetização e letramento, alguns alunos chegam ao ensino médio.
            ​Promover experiências significativas na escola é o primeiro passo para que o aluno veja a mesma com maior expectativa, com maior interesse e como possibilidade de crescimento não apenas profissional, mas individual, social e humano.
​           Nossos jovens procuram a escola como ponto de encontro social, gostam de estar entre os colegas, procuram se relacionar com aqueles que têm mais empatia, sabem que necessitam de uma certificação, sabem também que não há outro espaço para conseguir este intento. Cabe então a escola sabedora desses aspectos, promover uma ligação entre o conteúdo curricular e a visão do aluno, suas aspirações e necessidades, não sendo refém, mas sim formadora/capacitadora.