Considerações sobre a Avaliação Educacional

CONSIDERAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
                      ( Yvone Pimentel )
Muitos são os desafios enfrentados por nós educadores no campo da avaliação educacional. Mas dentre eles, podemos destacar como conflitantes o entendimento da concepção democrática de avaliação e a articulação entre suas formas – aprendizagem, institucional e externa – como reflexo de uma visão sistêmica de Educação.
Quanto à concepção, devemos entender a avaliação, além de seu caráter intrínseco de classificar, como uma forma de diagnosticar as deficiências ou lacunas do processo de ensino aprendizagem, para fazermos os ajustes e correções necessários à formação integral dos estudantes, durante o percurso pedagógico. Porém, o que observamos na prática escolar é que somos levados, por burocracias e padronizações do sistema, a avaliar os estudantes em momentos pontuais e de forma a medir o desempenho para definir resultados definitivos que acentuam ainda mais as diferenças sociais e culturais, separando os indivíduos de sucesso dos excluídos pelo fracasso educacional.
Um grande equívoco cometido é entender a avaliação como fim e não como processo de formação integral, assim como é equivocada sua percepção de maneira quantitativa reduzida a números. Sendo assim, faz-se necessário que a avaliação, seja compreendida como um processo de ensino aprendizagem que ocorre de forma contínua, cumulativa e sistêmica e não apenas como resultado final.
Tal compreensão deve permear todas as dimensões do processo de avaliação. Assim, a avaliação da aprendizagem permite identificar dificuldades e potencialidades individuais e coletivas no cotidiano escolar, atuando como elemento colaborativo na construção efetiva do conhecimento; a avaliação institucional permite orientar a comunidade escolar nos direcionamentos a serem seguidos para cumprimento da proposta educacional do seu estabelecimento; a avaliação externa permite estabelecer parâmetros de qualidades das instituições de ensino no intuito de regular a realidade escolar ao que se pretende como projeto de Educação num contexto mais amplo. E a articulação entre estas dimensões, partindo da concepção democrática de avaliação, é capaz de promover um sistema educacional voltado para a inclusão social e cultural dos estudantes.
Mas cabe a nós educadores nos debruçarmos mais atentamente a uma dimensão específica da avaliação educacional, por estar ela diretamente relacionada ao nosso cotidiano escolar: a avaliação da aprendizagem. Tal dimensão consiste num recurso pedagógico útil e necessário para auxiliar o educador e o educando na busca e na construção do conhecimento. E o grande desafio neste ponto, reside em avaliar para acompanhar o processo de aprendizagem e diante dos resultados, ter  uma postura crítica de retomada de encaminhamento pedagógico e redimensionar o conteúdo a ser apreendido.
Para superar este desafio é necessário que a escola, como um todo, adote ações pedagógicas que busquem tornar a reprovação o último recurso para o desempenho insatisfatório do educando. Antes disso, utilizar os resultados das avaliações para fazer revisões no currículo e na metodologia de ensino. E ainda, considerar a possibilidade dos educandos de realizarem a auto-avaliação em situações específicas. Para isso, é necessário coletar informações sobre o desempenho dos educandos, fazer registros sobre as vivências, produções e aprendizagens e organizar essas informações em relatórios ou portfolios, utilizando a avaliação formativa e processual com predominância dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos na aplicação de diferentes instrumentos de avaliação.
O educando que compreende através do educador que a avaliação é um processo de contínua construção, consegue, com o tempo e com o auxílio do educador, identificar quais são seus pontos fortes e o que ainda precisa melhorar. Assim desenvolve-se a noção de uma atitude crítica sobre o seu aprendizado, pratica a auto-avaliação, que serve para o educador e o educando estarem constantemente refletindo sobre suas potencialidades e reconhecendo suas aptidões.
Na relação dialética presente na avaliação, o educando confronta-se com o objeto do conhecimento que o leva a participação ativa, valorizando o fazer e o refletir. Assim, o erro no processo de ensino e aprendizagem assume caráter mediador, permitindo tanto ao educando como ao educador reverem os caminhos para compreender e agir sobre o conhecimento, sendo um ponto de partida para o avanço na investigação e um suporte para a internalização. O erro serve para direcionar a prática pedagógica, como diagnóstico que permite a percepção do conhecimento construído. Com isso, descaracteriza-se o processo de controle, como instrumento de aprovação ou reprovação. Por outro lado, o acerto desencadeia no educando ações que sinalizam possibilidades de superação dos saberes apropriados para novos conhecimentos.
        Nessa perspectiva, é necessário repensar os instrumentos de avaliação, reavaliá-los e ressignificá-los para que, de fato, possam atingir seus objetivos, ou seja, que tenham significado para o educando, que não exijam somente memorização, mas que contribuam para a aprendizagem.
É possível concebermos uma perspectiva de avaliação que seja marcada pela lógica da inclusão, do diálogo, da construção da autonomia, da mediação, da participação, da construção da responsabilidade com o coletivo. Tal concepção de avaliação alinha-se com a proposta de uma escola mais democrática, inclusiva, que considera as possibilidades de realização de aprendizagens por parte dos educandos. Parte do princípio de que todos são capazes de aprender e de que o encaminhamento metodológico, as estratégias de ensino, e os conteúdos das disciplinas devem ser planejados a partir dessas possibilidades de aprender dos educandos. Nesse sentido é importante que ao início do ano letivo seja proposto uma avaliação diagnóstica, que servirá de ponto de partida para o planejamento das atividades a serem realizadas.

A escola e os educadores que dela fazem parte devem refletir e rever quando necessário o Projeto Político Pedagógico e o Currículo, pois a avaliação precisa ser realizada em consonância com estes referenciais. E embora esses temas pareçam corriqueiros ou já superados pela escola, muitas vezes representam os pontos mais frágeis da instituição, pois tendem apenas a reproduzir modelos e paradigmas. É sabido que, em muitos casos, se aproveita o que já vem sendo feito, sem questionar a eficácia e a efetividade dessas práticas e instrumentos.
O Projeto Político Pedagógico, instrumento que apresenta a definição de avaliação, bem como os instrumentos e procedimentos utilizados, os critérios para atribuição de notas, os critérios de promoção, da recuperação, do aproveitamento de estudos, classificação, reclassificação tanto no ensino regular quanto na modalidade EJA e as instâncias que participam do processo de avaliação, da seguinte forma:
       “O sistema de avaliação vigente é único, tendo nota como aferição sendo a avaliação diagnóstica, processual e formativa não como um momento, mas como continuidade no próprio desenrolar do trabalho pedagógico, visando o desenvolvimento global dos alunos, a análise do seu desempenho e o alcance de resultados.”
Todos aqueles que estão envolvidos no processo educativo, devem estar também envolvidos no processo avaliativo, não só como avaliadores, mas também como avaliados. Sendo assim, os professores, funcionários, a direção, os professores pedagogos e também as famílias são chamados para expressarem o que estão pensando sobre o trabalho do colégio, para ajudá-lo, questioná-lo e compreendê-lo. Trata-se de um processo contínuo de intercomunicação entre agentes e beneficiários, promovendo a realimentação constante das informações com as quais os participantes poderão, individual ou coletivamente, analisar, reavaliar e desenvolver sua participação no âmbito do processo, bem como possibilitando uma adequação cada vez maior das necessidades e condições da realidade do aluno.
          O Conselho de Classe é uma das instâncias de análise coletiva do processo avaliativo. Ele, enquanto instância participativa acontece em dois momentos:
Conselho de classe junto à turma, neste momento, a equipe pedagógica, administrativa, a direção e um professor da turma vão até a sala de aula conduzem junto com os alunos a análise dos pontos levantados e as possíveis soluções.
Pós- Conselho, neste participa apenas a equipe pedagógica, a direção e os professores de cada turma, é feita a leitura do registro da ata do conselho com a turma, na em seguida é realizada a análise direta da situação junto aos professores e as possíveis soluções e os encaminhamentos necessários. Registrado em ata e no boletim informativo através dos professores de todas as disciplinas os quais ficam a disposição para quaisquer esclarecimentos, tendo sempre a assessoria da Equipe Pedagógica e Administrativa.
Quanto à realização de avaliação externa, é justificada como necessária para acompanhar o funcionamento de redes de ensino, além de fornecer subsídios para seus gestores na formulação de políticas educacionais com dados melhor definidos em termos dos resultados que, por sua vez, decorreriam das aprendizagens dos alunos. Por iniciativa do Ministério da Educação (MEC), no início dos anos 1990 foi criado o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), desdobrado em 2005 na Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc), denominada Prova Brasil, e na Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb), que, por sua vez, se articulam, em 2007, com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Com efeito, o debate educacional brasileiro, particularmente envolvendo o ensino fundamental e o ensino médio, incorporou como duas características marcantes as avaliações externas e a qualidade da educação escolar, pois esta passa a ser considerada por parte de gestores, mesmo que sem um consenso na comunidade educacional, como expressão dos resultados daquelas avaliações.
Ressalte-se que no cálculo do Ideb são incorporadas as taxas de aprovação de todas as séries de cada uma das etapas anos iniciais e anos finais do ensino fundamental e ensino médio, apuradas pelo Censo Escolar, e a proficiência média em leitura e resolução de problemas dos alunos da última série de cada uma das etapas avaliadas, estimadas pelo Saeb.
Outro exemplo, extremamente relevante, no que tange às avaliações externas, é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que vem ocupando lugar privilegiado nas políticas educacionais, com fortes indícios de suas influências no currículo de escolas do ensino médio, somado aos possíveis impactos na educação de jovens e adultos (EJA) pelo fato de que esse exame incorporou funções antes destinadas para o Exame Nacional de Certificação de Competências da Educação de Jovens e Adultos (Encceja).
Nesta perspectiva, as políticas públicas de educação e de avaliação devem ser pensadas no âmbito global das redes de ensino e no âmbito próprio das unidades escolares, considerando o conjunto das relações que são estabelecidas nos espaços entre as escolas, as famílias, os profissionais da educação e o poder público.
Acreditar nesta possibilidade significa trilhar o caminho para a constituição de uma escola inclusiva, democrática, transformadora e que garanta de fato o direito a uma formação humana integral à juventude brasileira.
Equipe: Bárbara, Eliane, Inês, Izabel, Jailson, John, Juraci, Lucilaine, Milena, Roselin, Salete, Silvana, Vainey, Valdeci e Maria Olívia (orientadora de estudos)