Considerações do grupo de trabalho do Colégio Gratulino de Freitas – Formação de Docentes, sobre o caderno III
De maneira geral, chegamos à conclusão de que, mesmo com a adoção pela escola, de um viés pedagógico a partir da Pedagogia Histórico Critica, com um planejamento que volta sua atenção para a mudança da prática social dos alunos, há ainda um espaço a ser percorrido para que possamos criar uma relação de proximidade entre aquilo que é ensinado em sala de aula, os conteúdos que fazem parte do currículo da nossa escola e o mundo do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura. Isso, porém, não quer dizer que estamos totalmente longe de conseguirmos fazer essa ponte, posto que em alguns casos – e podemos citar Educação Física, Língua Portuguesa, Arte entre outras – esse espaço fica mais estreito. Mas a grande preocupação dos professores que participaram do debate sobre esse assunto, foi com a concretização e a transformação dessas abordagens em algo que venha realmente mudar a condição dos alunos no que tange essas questões, de que maneira o conteúdo ensinado em sala poderá contribuir significativamente para que o aluno esteja preparado para inferir no mundo do trabalho, de que maneira o aluno poderá se apropriar e participar – como protagonista – do mundo da tecnologia, de que forma o aluno poderá ser efetivo no mundo da ciência e nele poder se transformar, transformando-o, de que maneira o aluno poderá compreender e participar do mundo da cultura, da sua linguagem e da sua abrangência.
A grande preocupação, mostrada ainda nesse debate foi com o planejamento, nas escolhas do que e de como ensinar dentro dos conteúdos, para que possamos fazer com que o aluno possa aproximar esses conteúdos com sua vida diária, seu cotidiano. Isso se dá, porque muitas vezes o professor não consegue ver isso nos seus planejamentos, pois, repetimos, é importante que o aluno veja aquilo que está estudando e como isso pode formá-lo enquanto cidadão.
As posições sobre o tema do debate, promovido pelo grupo, não eram de consenso, por isso citaremos algumas falas de professores, citando suas matérias e suas atividades em sala, a partir desse enfoque.
Em Matemática a preocupação do professor é que se sabe que “a matemática serve para a vida diária do aluno, porém quando este vai para a vida acadêmica isso se complica”, não conseguindo o aluno compreender o que e como se dá essa importância no cotidiano.
A professora de Arte “tenta ver como que a arte vai ser importante pra a vida do aluno, como ele pode utilizar em alguma atividade do cotidiano, como ele pode ver a arte na sua vida”. Isso se dá no momento do seu planejamento. “Tenta mostrar, ainda, como e porque ele está aprendendo arte na escola e qual é a função dela na formação do cidadão.”
No que tange a Química, disse a professora que “mostra ao aluno que a vida moderna está pautada nas tecnologias, como a nanotecnologia, por exemplo.”
O professor de Filosofia, afirmou que “a filosofia é, na verdade, uma atividade prática, pois ela trabalha com a visão de mundo e todos têm a filosofia em si. O que assusta é que a filosofia trabalha com a verdade e vem desconstruindo muitas verdades. Trabalha-se, então, com as verdades e elas são historicamente construídas e não como uma lei divina. Filosofia é cotidiano.”
Na disciplina de Organização do Trabalho Pedagógico, “trabalha-se as leis e as noções de legalidade da educação e quando os alunos se percebem disso começam a ver a utilidade daquilo que se está estudando.”
O ensino da Língua Portuguesa com os avanços que teve nos últimos anos (últimas décadas) tornou-se algo mais possível e mais coerente no que tange a relação entre o ensino e o mundo. Isso é possível devido as investidas da linguística no campo do ensino, mostrando que a língua é algo vivo e que seu objeto de estudo não era a normatização e sim o discurso. Portanto, hoje é possível fazer a relação entre a Língua Portuguesa ensinada em sala e o mundo do trabalho, posto que ela é quem vai servir de ligação entre o sujeito e o mundo. Então, compreender as facetas da língua que falamos, seus discursos, seus atos de poder é agir no mundo de maneira eficiente e eficaz.
Assim, pudemos concluir que fica claro que a ciência é a própria matéria em si e a tecnologia é a práxis (o conteúdo, a forma) que nos mostra como apareceu esse conhecimento. Essa tecnologia está além da tecnologia do cotidiano. Concluímos, ainda, que se trabalharmos a prática social dos conteúdos fica cada vez mais fácil trabalhar com essa interação tecnologia, cultura, trabalho e ciência. Então se ela – a prática social dos conteúdos - se concretizar na prática, estaremos trabalhando com os eixos.
Ainda sobre as questões do caderno III e sobre as conversas surgidas a partir dessas questões, avaliando as DCNEM, chegamos a algumas conclusões: Os princípios norteadores do EM foram os que mais geraram polêmicas. Isso devido ao fato de que existem necessidades para a vida do nosso aluno e o EM não está dando conta disso, não está dando conta de suprir essas necessidades, o que causa uma defasagem entre aquilo que o aluno quer e aquilo que se é oferecido, posto que o aluno enfrenta os problemas diário de sua vida e não tem as ferramentas necessárias para resolver esses problemas, pois para resolve-los ele tem que ter claro quais são esses princípios e como vai sacar mão disso para resolver. O fracionamento do ensino também é um dos assuntos que gerou polêmica nas discussões sobre DCNEM, pois essa fragmentação das disciplinas dificulta o interesse e a compreensão do aluno sobre o que lhe é ensinado, porque aprender uma disciplina separadamente, dificulta a retomada do conteúdo para a próxima aula o que, em algumas disciplinas, acontece apenas uma vez por semana. E como a maioria dos alunos, não possuem o conhecimento dos princípios do ensino médio, não conseguem perceber os objetivos das disciplinas ministradas, ainda mais em processo de fragmentação. Mas há pontos que são positivos, como por exemplo, a obrigatoriedade de matrícula, o recurso do FUNDEB, novo sistema de vestibular, a oportunidade de programas, como o ENEN, PROUNI, entre outras tantas oportunidades que infelizmente o nosso adolescente não sabe dar valor.
Muitos alunos cobram o uso da tecnologia, que na maioria das vezes é melhor administrada por eles do que pelo próprio professor. Porém muitos acreditam ter conhecimento total de tecnologia, mas esse conhecimento na maioria dos alunos é específico, e não generalizado. Talvez, fazer a relação dos conteúdos com os princípios do ensino médio, fosse mais fácil do que parece, se nós professores, utilizássemos recursos do interesse do adolescente, como por exemplo, a tecnologia.
Como síntese das nossas discussões e nossos estudos desse caderno III, chegamos à conclusão de que a solução para alguns dos problemas momentâneos do EM no que tange os eixos acima citados – trabalho, tecnologia, cultura e ciência – passa, de certa forma, pela problemática do currículo. Nesse sentido e respondendo a questão quatro do caderno em estudo, promovemos algumas consultas com os alunos sobre questões relativas ao currículo da nossa escola e como o conhecimento pode fazer a diferença na vida desses alunos. As respostas, em certa medida, foram surpreendentes, principalmente quando acompanhadas das sugestões para reformulação do currículo da nossa escola.
Uma das pesquisas foi realizada no ensino noturno, que na nossa escola tem a modalidade de ensino por blocos. O resultado foi, segundo a professora Beatriz Zagonel, que “em relação a questão, “O que vem a ser currículo”. Em torno de 50% dos alunos acreditam ser o que se aprende na escola, uma aluna não sabia e o resto disse que é um histórico escolar para o trabalho. Quando questionados sobre o sentido do conhecimento escolar na vida deles, mais da metade disse ser importante para sua carreira no futuro e crescimento pessoal. Uma aluna disse que muitas coisas são para seu futuro, mas que outras não têm o menor sentido, um aluno citou seu uso no cotidiano e outra aluna disse que vai conhecer coisas dependendo da matérias.
Em relação à questão anterior sobre, como o conhecimento pode ser utilizado (se já utilizou) alguns responderam que utilizam no dia a dia com amigos (o conhecimento melhora o relacionamento com as pessoas) e no trabalho e dois responderam que já utilizaram em concursos.
As sugestões para um novo currículo foram quase uma unanimidade. Acreditam que o colégio deveria oferecer cursos diferentes das disciplinas, mais esporte e lazer. Uma das alunas, falou em curso técnico e aulas práticas em algumas matérias, quadra coberta, além de atividades como teatro e dança.”
Outra pesquisa, porém realizada com os alunos do 4º ano do período da tarde na formação de docentes, a professora da disciplina de Artes relatou que “em conversa com os alunos do 4º AT, conclui que eles até que possuem alguma noção do que é currículo, pois a maioria relacionou o currículo com o conteúdo ministrado nas disciplinas. Acredito que tal conhecimento deva-se pela quase formação dos mesmos nesta área profissional. Seguindo o mesmo modelo de conversa, relataram que acreditam ser de grande importância cada disciplina envolvida, porém acham, importante uma junção de determinados conteúdos que são ministrados mais de uma vez em determinadas disciplinas. Deram também a ideia de projetos interdisciplinares, os quais muitas vezes são cobrados que apliquem em seus estágios, mas que muito pouco são vivenciados em seus estudos. Sendo essa uma das dificuldades do currículo, a fragmentação do conteúdo”.
Os professores de Educação Física e Língua Portuguesa, fizeram as mesmas sondagens que os outros colegas, mas com alunos do 4º ano do Magistério no período da manhã e a maioria deles respondeu que o conhecimento é de suma importância na sua vida, sendo parte estruturante do seu futuro e se dizem contentes com o conhecimento adquirido com o curso. Responderam também, sobre o currículo, ser ele o documento estruturante das disciplinas e de como se dá a educação da escola de forma geral. No que concerne às sugestões, foram bastante enfáticos em afirmar que há alguns problemas que precisam ser solucionados. O primeiro é quanto à rotatividade de professores que se dá durante o ano, dificultando o aprendizado, com a ruptura daquilo que vem sendo ensinado. Outro ponto destacado foi a fragmentação do ensino por matérias e conteúdos, pois alguns conteúdos são dados por mais de uma vez em duas ou mais matérias diferentes e que assuntos correlatos também sofrem o mesmo processo.
Portanto, a partir do envolvimento dos nossos alunos, nossos professores, pudemos discutir na escola como um todo, sobre o nosso currículo, quais seus desvios, quais seus acertos e, melhor ainda, como podemos melhorar esse currículo. A partir de discussões como essa é que podemos avançar na elaboração de um currículo que atenda as necessidades dos alunos quanto ao seu cotidiano, sua formação enquanto cidadão que pretende e deve inferir positivamente no mundo, que pretende ser protagonista no diálogo promovido pela sociedade. Pois, ter cidadania é poder ter voz ativa na criação e na elaboração da ciência, da cultura, do trabalho e da tecnologia e não ser somente usuário, consumidor, observador, participante passivo.
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