COL.EST. SANTOS DUMONT / CURITIBA - REFLEXÃO E AÇÃO – CADERNO 2 O jovem como sujeito no Ensino Médio

GOVERNO DE ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ – SEED
COLÉGIO EST. SANTOS DUMONT – E. FUNDAMENTAL, MÉDIO E INTEGRADO
                                                                                                     

Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio
REFLEXÃO E AÇÃO – CADERNO 2
O jovem como sujeito no Ensino Médio

A juventude é, ao mesmo tempo, uma condição social e um tipo de representação. De um lado, há um caráter universal, dado pelas transformações do indivíduo numa determinada faixa etária. De outro, há diferentes construções históricas e sociais relacionadas a esse tempo/ciclo da vida. A entrada na juventude se faz pela fase da adolescência e é marcada por transformações biológicas, psicológicas e de inserção social.
A juventude constitui um momento determinado, mas não se reduz a uma passagem.  Ela assume uma importância em si mesma como um momento de exercício de inserção social. É justamente nesta fase da vida que o jovem está frequentando o Ensino Médio e buscando sua formação para garantir o seu espaço no mercado de trabalho.
Vivemos em uma sociedade tecnológica; e as tecnologias reduziram os postos de trabalho mecânicos e aumentaram a exigência mínima intelectual para os empregos. A chance de um jovem sem Ensino Médio ser excluído na sociedade atual é muito maior do que há uma década.
O problema do Ensino Médio é mais grave do que o do Fundamental porque até há pouco tempo – e para muitos até agora – a etapa não era vista como essencial. A média de escolaridade dos adultos no Brasil ainda é de 7,8 anos e só em 2009 a Constituição foi alterada para tornar obrigatórios 14 anos de estudo, somando aos nove do Ensino Fundamental, dois do Infantil e três do Médio. O prazo para a universalização dessa obrigatoriedade é 2016.
Podem-se ressaltar os problemas apontados nos testes nacionais e a má colocação do País nos principais rankings internacionais ou olhar pelo lado positivo, de que o acesso à escola está perto da universalização e a comparação de índices de qualidade dos últimos anos aponta uma trajetória de melhora. Já sobre o Ensino Médio, não há opção: os dados de abandono são alarmantes e não há avanço na qualidade na última década; isso para entender por que a maioria dos jovens brasileiros entra nesta etapa escolar, mas apenas metade permanece até o fim e uma pequena minoria realmente aprende o que deveria. É o que se nomeia “funil do Ensino Médio”, dados confirmados por pesquisas.

No Colégio Estadual Santos Dumont, localizado no Bairro Guaíra, na cidade de Curitiba, Paraná, essa realidade não é muito diferente. Com o porte de 290 alunos matriculados no Ensino Médio – matutino e noturno- , com a variação de idade de 14 a 20 anos, os conflitos acontecem em múltiplos segmentos e contextos, confirmando a necessidade de um enfrentamento psicossocial que considere os problemas escolares dos jovens alunos, relativizando-os nos papéis desempenhados por todos os envolvidos na comunidade escolar: família, educadores, administradores, alunos e funcionários.
Nesse contexto e considerando o estudo correspondente às reflexões do caderno 2 do curso, entre os dias 13 a 15 de agosto, nosso grupo aplicou aos alunos do Ensino Médio (turnos matutino e noturno), um questionário contendo questões, sob a perspectiva da abordagem psicossocial, de suma importância para o diagnóstico da nossa realidade (ver anexo). Tais resultados foram tabulados e servirão de estudo para possíveis ações de enfrentamento aos problemas juvenis.
Buscamos com isso, entender a realidade de nossos alunos com suas respectivas relações nas três dimensões: família, comunidade e rede social e nas experiências construídas individual e coletivamente.
A pesquisa oferece, assim, os seguintes dados dominantes:
I. Família: é constituída por famílias monoparental, recasada e de pais separados. Os alunos moram com os pais e têm casa própria.
II. Comunidade: são moradores do bairro Guaíra, formado por fronteiras  típicas da capital paranaense, que revela o paradoxo da desigualdade social entre belos shoppings, casas e apartamentos, de um lado,  com aglomerados de casebres e barracos, do outro,  pertencentes à comunidade do Parolin.
III. Rede social: A comunidade escolar é cercada por associações comunitárias, igrejas e órgãos públicos de acesso a cursos, educação e saúde. Os possíveis relacionamentos sociais dos alunos estão conectados aos passeios aos shoppings Palladium e Total, bailes e cultos/missas da redondeza. Poucos frequentam ou frequentaram o teatro, além daqueles apresentados dentro do espaço do colégio, assim como a frequência ao cinema é a de 1 vez ao mês.
Além disso, é evidente o sucesso de preferência dos alunos pelas redes de relacionamento. Mais de 80% dos alunos têm acesso a computadores em casa, dedicando mais de 4 horas por dia de navegação em redes sociais, contrastando com até 2 horas por dia de estudo em casa.
Em relação ao contexto escolar, nossos alunos consideram o colégio importante para o relacionamento de amizade, apreciando ainda os intervalos para o lanche.
São assíduos no turno matutino, entretanto faltosos no noturno. Dizem prestar atenção nas aulas, mas não apresentam uma rotina de estudos em casa com, no mínimo, 2 horas diárias, embora considerem a aprendizagem muito importante. As aulas são consideradas boas e a disciplina de Matemática é a mais apreciada.
Segundo a pesquisa, é preciso mudanças na estrutura do colégio, com laboratórios ativos, boa conexão de internet para aulas mais dinâmicas e produtivas, além de professores mais dedicados em aulas interativas e alunos mais envolvidos nas atividades. 
Consideram-se discriminados e percebem que não são levados a sério, porém contrariam o paradigma de que alunos oriundos da Escola Pública não teriam perspectivas de avanços na educação, pois  nossos alunos almejam a graduação, como também querem atuar na área empresarial.
Considerações finais
É inegável a constatação de que a Educação Pública voltada ao Ensino Médio precisa de reformas urgentes relacionadas a todos os seus eixos. Não se trata no momento de se buscarem culpados, mas, ao contrário disso, é a responsabilidade de se perceber a vítima: nossa sociedade, que sofre as terríveis consequências pelo descaso que a Educação vem sofrendo ao longo dos séculos pelas políticas públicas.
Com os resultados obtidos dessa conversa, pudemos delinear o território de nossa atuação, confirmando os grandes desafios que precisam ser combatidos com a responsabilidade de todos.
O que temos em nosso colégio é uma juventude desprovida de identidade, perdida nos emaranhados de desmandos do poder público e deixada à mercê do destino pela própria família. Cursar o Ensino Médio é para ela mais um rito de passagem, uma obrigação coletiva, a qual, infelizmente, não se vincula exatamente à qualidade da aprendizagem. É uma juventude repleta de paradoxos, uma vez que suas atitudes se contradizem com suas ambições ao que se se diz respeito à valorização do estudo e redes respectivas.
Temos um grupo de docentes e de funcionários que também não se sentem levados a sério, doentes e desesperançosos em relação ao respeito e valorização pela dedicação à educação pública.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa I - caderno II : O jovem como sujeito do ensino médio / Ministério da Educação,Secretaria de Educação Básica; [organizadores : Paulo Carrano, Juarez Dayrell]. – Curitiba : UFPR/Setor de Educação, 2013.69p.