REFLEXÃO 01 (pag.14) – CADERNO IV- LINGUAGENS (ETAPA 2)
As relações entre a linguagem e a construção da realidade; como as práticas de linguagens estão relacionadas aos contextos sociais e históricos; como o conhecimento de linguagem aparece listado no filme; relação entre imposição e opção entre reprodução e mudança social.
O filme "O enigma de Kaspar Hauser" conta a história de um rapaz, Kaspar Hauser, que passou grande parte de sua vida privado do convívio social. A partir daí sua triste trajetória nos aponta muitos resultados obtidos por sua privação cultural, pelo não desenvolvimento de sua linguagem. O fato de ter vivido muito tempo isolado de outras pessoas (até mesmo seu alimento era deixado à noite, quando dormia) trouxe a Kaspar Hauser graves consequências na sua formação como sujeito o primeiro contato com a sociedade encontramos a explicação de Rosseau, o homem não é um ser social, é um ser duplo. Tem uma realidade individual e outra social, sendo que, para entrar na sociedade, precisa fazer um pacto social que é uma síntese das vantagens gerais.
Quando Kaspar é retirado do cativeiro e mesmo muito tempo depois, já com a linguagem desenvolvida é possível perceber através de seu olhar atônito, o espanto, o estranhamento frente à paisagem, frente às pessoas e suas reações. Através do filme podemos fazer uma reflexão sobre o papel da cultura e o papel da linguagem em vários aspectos. Para Kaspar Hauser todas as frases são vazias de significado porque não viveu a experiência da linguagem nas relações humanas. Seria impossível para Kaspar conhecer a si mesmo enquanto estava no cativeiro, pois somente podemos saber quem somos a partir de relações com outros humanos. Por não possuir linguagem nesse período, ele não poderia conhecer a si mesmo ou sequer pensar, refletir sobre a situação que vivenciava. O pensamento é vazio de conteúdo pela ausência da linguagem. Mais tarde, já com a linguagem mais desenvolvida passará a escrever suas memórias em uma busca, de uma construção de autocompreensão. Kaspar passa a perceber que o que interessava aos outros eram os enigmas em torno de sua história pessoal e não por sua pessoa. A única exceção a princípio era a palavra cavalo que, para ele, tinha algum significado porque um cavalinho de madeira era sua única companhia no cativeiro. O vazio de significado que as frases têm para ele comprova ou demonstram de algum modo que o homem quando privado do desenvolvimento mental do conhecimento, não irá interagir e nem viver em sociedade. Não sabia, no começo, dizer nada de si mesmo. Mais tarde, com o desenvolvimento da linguagem, ele fará uso do pronome “eu”, ou falará de si, de sua vida. Mesmo assim, Kaspar demonstra sentir-se totalmente excluído, não reconhecido pelos outros. Com o decorrer da trama, Kaspar sofre um atentado e termina assassinado, bruscamente anulado em sua humanidade.
Nesse filme podemos perceber a estreita relação entre língua, pensamento, conhecimento e a própria construção social da realidade. Sobre a construção social da realidade, um dos diálogos entre Kaspar Hauser e seu protetor nos permite saber que no cativeiro ele não era capaz de sonhar e, depois, fora dele, inicialmente confundia sonhos e realidade. Até mesmo a diferenciação entre sonhos e realidade é construída por meio da linguagem e das relações. Se nossa capacidade de conhecer o mundo está intimamente ligada à nossa capacidade de interagir, Kaspar não tinha como conhecer o mundo antes da linguagem. Ele passa a conhecer o mundo através da linguagem, mas, mesmo assim, este mundo lhe parecerá sempre estranho e escondido. Chega-se a uma conclusão que o ser humano necessita do contato com outros seres humanos para desenvolver toda a sua capacidade (mental e física) para se desenvolver bem em uma sociedade.