De acordo com as DCNEM a área de Ciên¬cias Humanas é composta pelas disciplinas de História, a Geografia, a Filosofia e a Sociologia. Há, portanto, na atualidade, um contexto desafiador para a criação de práticas curriculares promo¬toras da interdisciplinaridade nas Ciências Humanas, e dessas, com outras áreas do conhecimento. Um cenário desafiador favorável para um passo na direção de aproximar o ensino das Ciências Humanas no Brasil daquilo que pode ser retido como legado com relação às Humanidades: a construção de uma genuína integração entre seus componentes curriculares. Não podemos questionar o significado e o alcance da disciplinarização dos conhecimentos que compuseram as antigas Humanidades e as suas recentes sucessoras no campo das ciências. A reflexão sobre esse processo possibilita seu reconhecimento crítico e também a compreensão de alguns dos critérios que informa¬ram distinções e aproximações entre conhecimentos, suas práticas, seus usos sociais. Alguns procedimentos que particularizam as Ciências Humanas e as tornam, por assim dizer, ciências reflexivas, isto é, que pensam sobre a historicidade de suas próprias práticas, sobre os sujeitos que as pensam e sobre a própria sociedade. Estes procedimentos investigativos, os quais po¬dem ser entendidos também como perspectivas de atuação, são a desnaturalização, o estranhamento e a sensibilização.
A desnaturalização significa, justamente, o oposto daquela atitude de achar que tudo na vida é “na¬tural”, como se a “realidade” correspondesse exatamente às representações que fazemos dela. Ou seja, o procedimento da desnaturalização consiste em interpretar e reinterpretar o mundo, construir novas expli¬cações para além daquelas mais recorrentes, usuais, rotineiras, banais ou simplistas, existentes em nossas vivências cotidianas e no que chamamos de “senso comum”. Romper com a atitude de achar tudo “natural” implica, portanto, em estranhar esse próprio mundo, nosso cotidiano, nossas rotinas mais usuais. Assim, a perspectiva do estranhamento requer certo reencantamen¬to do mundo, isto é, uma atitude de voltar a admirá-lo e de não achá-lo “normal”. Implica também em não nos deixarmos levar por aquilo que usualmente conhecemos como “conformismo” e “resignação”. Ou seja, sentir-se insatisfeito ou incomodado com a “vida como ela é” nos conduz a formular perguntas, sugerir hipóteses, questionar, portanto os próprios “fatos”, tais como eles se nos apresentam. Por fim, a sensibilização pode ser entendida como a possibilidade de percepção atenta das vivências e experiências individuais e coletivas, rompendo-se assim com atitudes de indiferença e incompreensão na relação com o outro e com os problemas que afetam comunidades, povos e sociedades. Assim, as perspectivas da desnaturalização, do estranhamento e da sensibilização podem ser en¬tendidas como ferramentas cruciais para o desenvolvimento de uma postura investigativa, atitudes fundamentais para a problematização dos fenômenos considerados os mais triviais da realidade. Aqui, talvez repouse o aspecto mais importante do legado das Ciências Humanas para a aprendizagem, qual seja o de fomentar conhecimentos emancipatórios, voltados ao enfrentamento de dilemas de nossa contempora¬neidade.