COLÉGIO ESTADUAL PORTO SEGURO Formação de Professores do Ensino Médio ETAPA II CADERNO II

COLÉGIO ESTADUAL PORTO SEGURO
Formação de Professores do Ensino Médio
ETAPA II CADERNO II

CIÊNCIAS HUMANAS

As Humanidades talvez sejam a forma mais acessível de imaginar uma unidade possível entre os componentes das Ciências Humanas no currículo do Ensino Médio. Dialogamos, nessa proposta, com as observações da professora Marjorie Garber (2001),as Humanidades permitem, entre outros desdobramentos, construir práticas pedagógicas de natureza interdisciplinar para as Ciências Humanas.
  O objetivo é que, desse percurso, resultem imagens viáveis para um projeto pedagógico destinado à educação integrada no campo das Ciências Humanas.

A paideia: sintetizava os estudos que deveriam fazer parte da preparação dos jovens aristocráticos para a vida pessoal, familiar e social, em seus aspectos religiosos, políticos e morais. Nesse sentido, a paideia, significava a sabedoria humana e suas aplicações para viver uma vida virtuosa, que incluía não apenas o autodesenvolvimento, mas sobretudo o desenvolvimento cívico.

As Humanidades: são uma criação tipicamente romana, tem o objetivo da formação segundo o modelo do papel a ser desempenhado pelo homem público – o orador. O domínio da comunicação oral e escrita era considerado como uma preparação essencial para influenciar a política e opinião pública e, assim, servir ao Estado. Assim afastaram-se da paideia grega e foram transformadas naquilo que passou a se chamar artes liberais.

Renascentistas: Os professores italianos de Gramática e Retórica muniram-se cada vez mais de recursos pedagógicos formalizados em livros, manuais e instrumentos instrucionais. Nesse formato, os estudos humanísticos descolaram-se dos estudos teológicos, ao longo de toda a Renascença, dificilmente a palavra Humanidades se referia a um estudo geral da humanidade ou dos seres humanos enquanto participantes de uma cultura, muito menos exprimiam a ideia de que o ser humano, ao invés de Deus, a tradição ou a Natureza, fosse o centro ou a medida de todas as coisas.

Formação do Cientista: As Humanidades renascentistas fizeram reviver os ideais dos romanos uma educação voltada à transmissão de uma cultura liberal ou cultura geral, nós permitir enfatizar que interdisciplinaridade não é sinônimo de generalidade. Ao contrário, a interdisciplinaridade requer disciplinas e especialidades bem estabelecidas. Assim, as tentativas de produzir ou exibir uma unificação entre conhecimentos. O objetivo desse projeto era reunir todas as formas disponíveis de conhecimento presentes nas artes e nas ciências.

Formação do especialista: No século XIX representou um momento ímpar para a crescente especialização e disciplinarização dos conhecimentos. Esse processo produziu efeitos imediatos na reorganização das universidades e suscitou acalorados debates sobre a classificação das ciências.  Houve permuta de sentidos e fusões de conteúdos entre os termos Ciências Humanas e Humanidades.
O padrão da educação liberal foi profundamente modificado no curso de um século, de tal modo que Humanidades passaram a significar os estudos culturais cada vez mais inclusivos a ponto de alcançar a literatura em língua vernácula, além da Filosofia, História da Arte e, frequentemente, História Geral. A integração e interdisciplinaridade no ensino secundário brasileiro: dilemas e possibilidades em sociedades onde os progressos tecnológicos cada vez mais ditaram os ritmos de vida, da organização e divisão do trabalho, dos fluxos de riquezas, capitais e mercadorias, e das próprias percepções do tempo e do espaço, os conhecimentos sobre o mundo natural adquiriram destaque e referencialidade.
Seus procedimentos metodológicos e critérios epistemológicos foram então tomados como parâmetros de verdade, confiabilidade, utilidade, progresso e civilização.
Em meio a tantas heranças e tradições disciplinares, propor e realizar a integração e a interdisciplinaridade entre as Ciências Humanas como projeto pedagógico no Ensino Médio brasileiro, na atualidade, não é tarefa simples, envolvendo desafios, dilemas, mas também possibilidades. Criadas na década de 1930, as universidades, seus projetos e cursos, incluindo-se a questão da formação de professores, eram alvo de demandas por expansão, inclusão e democratização, nas dinâmicas da qualificação profissional. A instauração do governo autoritário após o golpe civil-militar de 1964 alterou significativamente esse cenário. As mudanças no campo educacional materializaram-se, entre outras ações, numa nova LDB, a Lei nº 5.692 de 1971 (BRASIL, 1971). As políticas educacionais pós-1964 restringiram o espaço destinado às Humanidades nos currículos escolares da Educação Básica- – a Educação Moral e Cívica (EMC) para o ensino fundamental, e Organização Social e Política Brasileira (OSPB) para o Ensino Médio.
A inclusão da Filosofia e da Sociologia como componentes curriculares das Ciências Humanas aponta como um elemento inovador, exigindo de nós, professores e gestores, respostas e possibilidades criativas, como esse curso procura fomentar. Há, portanto, na atualidade, um contexto desafiador para a criação de práticas curriculares promotoras da interdisciplinaridade nas Ciências Humanas, e dessas, com outras áreas do conhecimento os desafios de atender às inúmeras demandas existentes na sociedade atual, de seguir as normas das instituições escolares e de trabalhar satisfatoriamente com os jovens estudantes são tão complexos que, muitos de nós, pensamos na incompatibilidade dessas múltiplas atividades, não é raro encontrarmos profissionais da educação que procuram atuar isoladamente, sem se envolverem em projetos pedagógicos coletivos, Desde que a LDB nº 9.394/96 foi sancionada, identificamos o intenso debate a respeito da “reinvenção” dos espaços escolares.
  As atuais DCNEM reforçam essa ideia ao destacar o protagonismo dos jovens estudantes como sujeitos do processo educativo. Mas como reconhecer e aceitar a diversidade e a realidade concreta dos sujeitos do processo educativo se, em várias ocasiões, não estabelecemos diálogos abertos e democráticos com os sujeitos desse processo. Nesse sentido, precisamos buscar a compreensão das realidades socioculturais que estão presentes nas comunidades escolares para efetivamente conhecermos nossos parceiros no desenvolvimento dos processos educativos, sobretudo os jovens estudantes.
A escola pública é o espaço onde o diálogo, a colaboração e o comprometimento coletivo podem potencializar os processos educativos dos sujeitos as concepções democráticas que norteiam a legislação educacional vigente no Brasil, entendemos que é possível superar os fenômenos considerados promotores do mal-estar em nossas instituições de ensino, construindo novos paradigmas de relacionamento com os jovens estudantes, além de garantir os direitos à aprendizagem e ao desenvolvimento por meio dos conhecimentos trabalhados pelos componentes curriculares da área de Ciências Humanas.

PARA QUE SERVEM AS CIÊNCIAS HUMANAS?

Infinitas questões povoam as cabeças de nossos jovens estudantes do Ensino Médio, que além de estarem matriculados em nossas escolas, encontram-se em uma fase da vida marcada por processos de transição repletos de dilemas, indefinições, questionamentos e crises. Nesse sentido, reafirmamos a importância da discussão referente às identidades juvenis.
Algumas das marcas mais características de nosso tempo são as constantes, intensas e desafiadoras mudanças que atingem distintos grupos sociais concomitantemente. Entre os jovens estudantes, as novas tecnologias – lançadas no mercado em ritmo cada vez mais acelerado – apresentam apelos consumistas e simbólicos capazes de alterar suas formas de leitura de mundo, práticas de convívio, comunicação, participação política e produção de conhecimento, interferindo efetivamente no conjunto de suas relações sociais. Diante deste cenário de mudanças, os profissionais da educação precisam refletir sobre os projetos pedagógicos em curso, reafirmando a preocupação com a plena formação para o exercício da cidadania, fundada na incorporação dos elementos culturais como desdobramento do processo de humanização.
Novas tecnologias é uma interessante oportunidade para estabelecermos um diálogo mais próximo com nossos estudantes, conhecendo um pouco mais sobre suas visões de mundo, expectativas, dilemas, anseios e que os projetos educacionais encontram e valorizam as demandas de nossos jovens estudantes. Se por um lado não podemos desconsiderar a formação do sujeito para a vida social, que inclui o mundo do trabalho, por outro lado as instituições educacionais têm função primordial na formação de sujeitos críticos e não tutelados, capazes de desenvolver autonomia ética e elevação estética, e preparados para criarem e se engajarem em processos de discussão e de articulação sociopolíticos solidários, democráticos e participativos.
As Ciências Humanas têm, na essência dos seus diferentes componentes curriculares, o potencial e a responsabilidade de liderar reflexões importantes no cotidiano escolar. Essas reflexões são fundamentais para a formação cidadã e para a leitura de mundo dos jovens brasileiros.
Cabe às Ciências Humanas a discussão sobre o domínio do privado e do público, discussão essa que extrapola os limites do Estado e alcança segmentos expressivos da sociedade civil e suas instituições – associações comunitárias, sindicais, religiosas e as diversas mídias. Constituem espaços, por excelência, de controvérsia, de discussão e de cidadania, e por isso merecem ser objetos de investigação e reflexão nas escolas do Ensino Médio. Esse debate é importante para compreender a necessidade da garantia da livre manifestação de interesses, ideias, crenças, valores e comportamentos.
A luta constante para a promoção e a defesa da dignidade humana, dentre outras questões, implica reconhecer valores fundamentais da democracia. Esses constituem-se em aspectos importantes a serem desenvolvidos no cotidiano da Educação Básica para a configuração de uma reflexão a respeito da dignidade da vida, em toda a sua diversidade. O trabalho, como vimos, é essencial para a vida e uma característica inerente ao ser humano, já que potencializa as nossas capacidades intelectuais e físicas. A Ciência é mais do que erudição ou saber enciclopédico, ou ainda uma disciplina, um método, uma abordagem.
Estimular o exame crítico em torno dos parâmetros científicos, pode permitir ao estudante ampliar a sua compreensão sobre ciência e estruturar as suas práticas cognitivas, ampliando a leitura de mundo. Destacamos ainda, a necessidade de levantarmos as questões de gênero, de etnias, de religião e de sexualidade, entre outras, já que são temas que interferem direta ou indiretamente no processo de humanização, na afirmação ou negação dos direitos humanos.
A humanização requer o reconhecimento do patrimônio cultural, valorizando as histórias e as memórias da sociedade que o construiu, seja ele material ou imaterial. Nesse sentido, sensibilizar o estudante do Ensino Médio para perceber a diversidade cultural e religiosa é garantir a todos o reconhecimento das suas formas de expressão, é assegurar as condições para despertar o desejo e interesse pelo conhecimento das histórias e memórias pessoais e coletivas a importância de auxiliarmos na formação estética dos nossos jovens, pois é por ela que os seres se constituem no processo humano, fazem a si mesmos e ao mundo (ZATTI, 2007)
Para Freire (2000) a educação, como processo contínuo, pode criar o belo. Nesse sentido, a arte favorece, entre outras coisas, a compreensão da cultura, envolve as dimensões éticas e estéticas de seu tempo Ciências Humanas têm muito a oferecer.
Ao lidar com tudo que afeta a ação dos sujeitos humanos no mundo, as Ciências Humanas as investigam e questionam de formas variadas, possibilitando aos estudantes, em particular, a compreensão crítica de si e do outro, das configurações e relações sociais de práticas e valores culturais, na tentativa de protagonizar atitudes transformadoras e éticas. Busca-se, pelo conhecimento reflexivo e crítico, baseado na desnaturalização, no estranhamento e na sensibilização, como argumentado na unidade dois desse Caderno, entender o mundo no qual vivemos e dimensionar as implicações de nossas escolhas morais, políticas, religiosas, jurídicas.
-Paulo Freire, podemos perceber como a escola, por vezes, mantém uma “cultura do silêncio”, ou seja, o distanciamento com relação às vivências, experiências e expectativas dos estudantes, dos grupos e comunidades nas quais se inserem. Romper com essa “cultura do silêncio”, ouvir atentamente as muitas vozes do mundo e com elas dialogar e aprender, é uma das contribuições fundamentais que as Ciências Humanas podem oferecer.
Todos os itens do Artigo 13 das DCNEM citados no livro, devem na medida do possível, ser contemplados pelas práticas curriculares das diversas áreas de conhecimento. Para as Ciências Humanas, em especial, a tematização dos direitos humanos e o compromisso com a sua universalização possuem centralidade no planejamento do que e do como ensinar, tendo em vista a promoção do “respeito a esses direitos e à convivência humana” (item IV).
A História, a Geografia, a Filosofia e a Sociologia, cada uma a sua maneira, têm muito a dizer ao realizarem a reflexão crítica, compreensiva e dialógica sobre as vidas que sujeitos humanos experienciaram em diversas temporalidades e espacialidades. E complementemos, têm muito a ouvir, e a aprender com os estudantes, professores e gestores com os quais convivemos nas instituições educacionais é indiscutível que a concretude de um currículo interdisciplinar só será realizada no exercício conjunto, de sujeitos que percebem a educação e sua capacidade de formação integral. É comum ao longo de nossa trajetória profissional o planejamento isolado, muitas vezes longe do local do trabalho. Entretanto, para que esta proposta de trabalho interdisciplinar se efetive, precisamos quebrar essas barreiras. Precisamos do diálogo aberto entre os profissionais envolvidos.