Colégio Antonio José Reis - Toledo - PR. Reflexão e Ação - Caderno V
Segundo PARO (1996), a gestão democrática depende muito mais da disposição de todos que trabalham na escola para conversar sobre os problemas cotidianos vivido por ela. Essa disposição não resulta apenas de vontades pessoais nem da autorização de órgãos superiores. Depende de um processo de construção que é social, ou seja, depende da prática e do aprendizado de todos os envolvidos, que não se resume apenas em reuniões, mas muito trabalho, que demanda tempo, envolvimento, reflexão e execução dos participantes que vai resultar no crescimento do coletivismo na escola.
Entendemos que a gestão democrática é um processo de construção social, que deve ter a participação de diretores, professores, pais , alunos funcionários e da comunidade local, que não existe uma democracia pronta, acabada, mas que a mesma acontece num processo de aprendizado coletivo, do próprio exercício de respeito ao diferente, buscando articular essas diferenças no contexto dessa contradição e assim, exercitar o diálogo, o respeito, a liberdade de expressão, necessários para construir a gestão democrática. Porém, percebemos que, Historicamente, as decisões no campo escolar, sempre foram tomadas por um grupo muito pequeno e que às vezes não conhece a realidade da escola. Também existe uma cultura do não envolvimento e participação de todos os interessados nessa esfera educacional. Nesse contexto, refletindo a questão 1, apontamos várias situações de exclusão que percebemos no ambiente escolar enquanto educadores diretamente ligados a essa realidade. Podemos elencar algumas que em muitas vezes nos chegam como uma resolução ou orientação do sistema educacional o qual estamos inseridos, como: Formação de turmas acompanhadas pelo Núcleo Regional de educação que em alguns casos exigem a junção de turmas originando classe numerosa e problemática, situação que se acompanha todo ano letivo. Distribuição de aulas, realizadas no final do ano letivo quando os professores encontram-se envolvidos nas atividades de encerramento do ano letivo, ainda as turmas para o ano letivo seguinte não estão bem definidas, dificultando a escolha e a organização do corpo docente. A mudança da grade do Ensino Fundamental, aumentando o número de aulas das disciplina de Português e Matemática, em detrimento de outras disciplinas. Com essa decisão, pensavam em resolver o problema da defasagem nessas referidas áreas, que a nosso ver, é um problema estrutural que não se resolve com uma medida de aumento de carga horária em qualquer disciplinas, sem uma discussão prévia com os maiores interessados que são os professores; outro exemplo antidemocrático, foi a ampliação por mais um ano da gestão dos diretores atuais (2014), por parte do executivo estadual; quando na verdade as escolas e comunidade escolar já se preparavam para as eleições de novos gestores. Não se pode falar em gestão democrática, com atitudes como essa.
Acreditamos que a solução para essa problemática e para que a escola possa exercer sua autonomia de fato, no que diz respeito a esses apontamentos e a outros, é necessário que a escola continue apresentando às instâncias superiores essas situações e como elas refletem no desenvolvimento das atividades durante todo o ano letivo, exigindo mudanças de acordo com a realidade de cada unidade escolar. Na prática, os profissionais da educação que atuam nessa unidade de ensino, demostram interesse em desenvolver ações pedagógicas focadas na melhoria da qualidade de ensino, bem como, com referência às lutas, para melhores as condições de trabalho e recursos visando, também, essa qualidade. Nesse aspecto, enfrentamos grandes desafios, pois, muitas vezes, as instâncias que são responsáveis pelo seu andamento e mesmo, financiamento nem sempre correspondem a isso. Na gestão democrática da escola pública, deve ser considerado em primeiro lugar a autonomia, entendida como capacidade de alguém ou de uma instituição decidir por si mesma os rumos a seguir, segundos seus princípios. Aplicando-se isso à escola, isso ignifica sua capacidade de auto dirigir-se com referência aos aspectos e dimensões que a constituem, o que inclui desde a concepção de educação que pretende tomar como orientação para seus alunos, até mesmo a decisão cotidianas e corriqueiras, relativas a gastos com materiais de consumo ou de limpeza, passado pela gestão financeira.
Temos como prática em nossa escola a discussão ampla e coletiva de todas as situações que envolvem a organização pedagógica e até administrativa, fizemos isso tanto de maneira formal, quanto informal. Essa atitude traz bons resultados no andamento do ano letivo, porém quando a questão nos vem como imposição precisamos estar adaptando à nossa realidade, o que causa transtornos e dificuldades que acabam refletindo no processo de encaminhamentos e planejamentos. Porém, Sempre procuramos nos adequar as orientações recebidas do sistema educacional o qual estamos inseridos, não deixando, em alguns casos, de registrar pontos positivos e negativos e ainda, quando necessário, fazer as devidas reclamações. Compreendemos que a autonomia não é concedida por alguém ou por uma instituição, no caso o Estado, ela se institui no embates entre as forças e concepções existentes, por esse motivo ela é um produto de construção histórica. “E conquista e não favor”. Diante disso, é necessário ter uma visão realista das dificuldades a serem enfrentadas e, criar um clima de diálogo sincero, é condição necessária para a consolidação das práticas democráticas na escola. Caso não se tenha esse diálogo franco e aberto, provavelmente não se atingirá o objetivo esperado.
A Gestão Democrática Escolar pressupõe ainda a participação efetiva das Instâncias Colegiadas (APMF, Conselho Escolar, Grêmio Estudantil e Conselho de Classe) e comunidade local na tomada de decisões coletivas para o planejamento administrativo e pedagógico da escola, portanto só se efetivará a Gestão Democrática nas escolas que estão organizadas para a prática dialógica de efetiva participação o que representa mais um grande desafio, visto que, deve acontecer uma formação continuada para todos os membros das Instâncias Colegiadas e membros da comunidade local para que possam conhecer as concepções que norteiam as escolas, caso contrário serão somente membros delegados e massa de manobra para dar legalidade as escolas. As dificuldades devem ser superadas ou tudo continuará como está. De acordo com Gadotti e Romão: A gestão democrática não é um processo simples de curtíssimo prazo, mas também não é processo tão complexo ou irrealizável, de prazo interminável. Significa dizer que ela se constituirá numa ação, numa prática a ser construída na escola. Ela acontecerá se associada à elaboração do projeto político pedagógico da escola, à implantação de Conselhos de Escola que efetivamente influenciem a gestão escolar como um todo e às medidas que garantam a autonomia administrativa, pedagógica e financeira da escola, sem eximir o Estado de suas obrigações com o ensino público. (GADOTTI e ROMÃO, 2000, p. 96). Paro vai além quando reforça que é através da participação coletiva que se fará pressão aos grupos dominantes em favor da transformação da escola pública que se pretende. (PARO, 2000, p. 10).
A organização e composição do Conselho Escolar em nossa escola, segue as orientações do conselho Estadual de Educação, acompanhado pelas instruções da SEED. Os membros são escolhidos democraticamente entre seus pares. Esse Conselho participa das decisões tomadas na escola juntamente com o coletivo. Nesse ano letivo até o momento não houve convocação extraordinária desse órgão específico. Quanto ao Grêmio Estudantil, nessa instituição de ensino tivemos, em anos anteriores grêmios muito bem organizados, participavam ativamente das atividades da escola. Programavam atividades de lazer e recreação envolvendo todos os alunos e professores, participavam de promoções e eventos realizados na escola. Era um órgão com participação ativa e responsável. Atualmente percebemos a dificuldade de se organizar esse órgão representativo na escola. Seguindo as orientações repassadas pelo sistema de ensino, tentamos organizar nossos estudantes, no sentido de participarem efetivamente dentro dessa proposta, porém não temos tido sucesso, encontramos jovens sem interesses, falta de responsabilidade, sem ação diante da função que devem exercer. As atividades propostas na legislação que dá legitimidade ao grêmio escolar, aponta várias ações a serem praticadas no interior da escola que podem possibilitar a esses jovens, se realmente se envolverem, a protagonizar ações fora da escola, na sua comunidade, que leve a busca do bem comum.
As ações patrimonialistas podem ser claramente percebidas no interior das unidades escolares no que diz respeito à própria organização do sistema educacional. As escolas devem seguir legislação e orientações tanto da esfera federal quanto estadual que servem para dar um caráter uniforme ao ensino (necessário), porém, muitas vezes impedem que a escola tome decisões cabíveis a cada ocasião. Exemplos concretos de autonomia concebida são evidenciados primeiramente na construção coletiva do seu projeto político pedagógico onde, as características da comunidade escolar onde esta unidade de ensino está inserida aparecem, e a partir desse elemento, são traçadas ações administrativas e pedagógicas cabíveis a essa comunidade. Segundo Paro, os três aspectos que condicionam a participação dos pais na escola são: condicionante econômicos sociais (tempo, condições materiais, disposição). Condicionantes culturais (não tem interesse pela educação dos filhos). Condicionantes institucionais (mecanismos coletivos – descrença no poder público). Na nossa realidade atualmente, podemos apontar todos esses fatores presentes quando se trata da presença dos pais na escola e também na vida escolar de nossos estudantes. Podemos ainda elencar junto a essas condicionantes, desestruturação familiar, pais que empurram de um para o outro, responsabilidades sobre os filhos, estudantes sob responsabilidade de avós já idosos ou até mesmo de outras pessoas. (pais ausentes da vida dos filhos). No entanto, não devemos confundir gestão democrática e autonomia, como participação da comunidade para resolver problemas da escola através do trabalho voluntário, Lück defende a gestão democrática através da participação dos pais na escola, para que esta se integre a comunidade, no entanto a autora afirma também que a comunidade deva “colaborar com ações de parcerias e trabalho voluntário na escola” Heloísa Lück (2010, p.67). Quando se aceita este trabalho voluntário, aceita-se também o “Estado Mínimo”, que tem como pressuposto melhorar a qualidade da educação através da desoneração do Estado, jogando as responsabilidades para a escola e comunidade escolar.
Enquanto professores, participamos da construção e adequação, em vários momentos, da Proposta Política Pedagógica dessa instituição de ensino, portanto, podemos afirmar que ele foi construído coletivamente, representa as características da realidade específica da sociedade em que se encontra inserida. Sempre que necessário são feitos ajustes a esse documento que contém as propostas pedagógicas e administrativas dessa unidade de ensino sempre pautadas nas normatizações do sistema educacional de ensino.
No ambiente sala de aula, na atualidade afirmamos que é o local mais desafiador para o professor, pois, ele organiza seu Plano de Trabalho Docente pensando numa formação integral de seu aluno, cria estratégias a fim de conduzi-lo de forma a cativá-lo na busca do conhecimento, propõe ações que possam possibilitar a construção individual e coletiva do saber, porém esbarra em dificuldades seriíssimas como a indisciplina, a falta de interesse tanto de alunos quanto dos pais, a violência entre colegas, e até mesmo contra professor, salas superlotadas, alunos com dificuldades sérias de aprendizagem e outras deficiências, problemas estruturais das escolas, falta de material e equipamentos. Nesse contexto, percebe-se o esgotamento físico e mental do professor, o desânimo frente essas dificuldades, refletindo de forma negativa nos resultados esperados que se objetivou ser para o grupo como um todo e não parte desse.
Referências:
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Formação de professores do Ensino Médio: Organização e Gestão Democrática da Escola - Caderno V. Curitiba: UFPR, 2014.
GADOTTI, M. e ROMÃO,J.E.(org). Autonomia da escola: princípios e propostas; 3ª ed.; São Paulo; Cortez; 2000.
LUCK, Heloisa. Gestão Educacional – Uma Questão Paradigmática. Rio de Janeiro, 2010. Ed. Vozes.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Padcto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio: Formação continuada para os professores do Ensino Médio do Estao do Paraná. Caderno V. Curitiba, junho de 2014.
PARO, Vitor Henrique. Eleição de diretores de escolas públicas: avanços e limites da prática. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicas. Brasília, V. Ática, 1996.
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