C.E.SANTOS DUMONT - CURITIBA TEXTO FINAL CADERNO 1
GOVERNO DE ESTADO DO PARANÁ
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ – SEED
COLÉGIO EST. SANTOS DUMONT – E. FUNDAMENTAL, MÉDIO E INTEGRADO
Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio
Etapa I – Caderno I
Desafios Encontrados no Ensino Médio
O Ensino Médio no Brasil sofreu inúmeras transformações ao longo da história. Deixou de ser elitista e excludente e transformou-se em uma etapa educacional democrática, quando o ensino passou a exigir a obrigatoriedade desta modalidade. No entanto, essa etapa educacional continua sendo o “nó” da educação brasileira.
Se, no período militar, essa etapa do ensino adquiriu uma visão estritamente profissional, formando alunos para o futuro mercado de trabalho e uma grade curricular extremamente tecnicista, hoje o Ensino Médio deve formar os alunos para que exerçam efetivamente o seu papel de cidadãos plenos, de quem a sociedade tanto precisa.
No entanto, o nó atribuído ao Ensino Médio está no fato de que este não deu conta de preparar o jovem para o mercado de trabalho, devido ao empobrecimento dos currículos escolares com o esvaziamento e a retirada dos conteúdos gerais, anulando neles a capacidade crítica de compreender a realidade social.
Hoje, o Ensino Médio vai além desta educação tecnicista e restrita ao âmbito profissional, pois propõe uma educação integrada, capaz de propiciar aos alunos, entre outros objetivos, a compreensão da vida social e a evolução técnico-científica e trabalhista que o mundo vem sofrendo.
No entanto, esta formação integrada e humanística também não conseguiu, ainda, contemplar os alunos em sua plenitude, já que taisdesafios são identificados em todas as esferas que dizem respeito à Educação, ou seja, temos uma legislação ainda aquém, que contribui para a segregação dos alunos da classe popular, embora grandes avanços têm-se percebido após a gestão do Presidente Lula.
O acesso à Escola e à Universidade está vinculado às questões sociais e econômicas, mesmo com a abertura de bolsas mantidas pelo governo à classe menos privilegiada. A grande maioria do grupo daqueles que frequentam a Escola Pública não recebe apoio e incentivo da própria família e da sociedade e, assim, apresentam grande dificuldade de aprendizagem e lacunas de conhecimento e de cultura universal. A explicação possível para os desafios ainda enfrentados pela Escola Pública pode recair na reflexão de que ainda é desigualdade social no país é gritante. A Educação de qualidade está vinculada à camada privilegiada, que paga o acesso à manutenção do "status quo" para os seus filhos e descendentes, mantendo assim o domínio da melhor qualificação profissional e educacional, enquanto a classe trabalhadora ainda precisa equilibrar o trabalho diário entre o acesso à Educação.
Os adolescentes de renda menor não acreditam muito em seu potencial e acreditam menos ainda em uma possibilidade de ingressão ao Ensino Médio, enquanto os que têm uma situação mais vantajosa já olham de forma motivadora e diferenciada, ou seja, há perspectivas de avanço (especialização, mestrado, doutorado e pós PH). Essa discrepância social é hereditária, pois quando os pais não conseguem a formação adequada, em geral, os filhos não se sentem motivados para a reversão do estado.
Por isso deve ser investido muito na educação, tendo primeiramente locais adequados ao que se propõe, materiais disponibilizados para o trabalho de qualidade e valorização profissional, tanto com 50% de hora-atividade para que o professor possa ter um trabalho mais rico de informações e principalmente para poder dedicar-se a trabalhos de pesquisa junto aos alunos, assim tornando a prática de ensino menos estressante na quantidade de materiais para elaborar e corrigir,, quanto na parte de remuneração básica; e não longe, serem cobrados resultados. Com esse tipo de investimento, o trabalho terá uma melhora significativa, o aluno terá mais prazer em ir para a escola, seus pais, vendo o resultado obtido pelo entusiasmo de seus filhos, irão acreditar em seu futuro, lutando para que ele permaneça e, não só conclua o Ensino Médio, mas chegue ao ensino superior.
Não se pode esquecer de que um profissional reconhecido tem seu trabalho realizado com muito mais prazer, obtendo resultados além do esperado.
Ainda há muito a avançar. A matrícula não pode ser encarada como mera estatística. É preciso melhorar a qualidade de ensino, pois essa é a única ferramenta de incentivo à manutenção dos alunos no Ensino Médio. Há de se considerar também que o ensino profissionalizante regular ou subsequente é uma ótima ferramenta para o nosso país, por onde há a formação de pessoas mais qualificadas para o mercado de trabalho.
Em relação aos principais problemas do Ensino Médio no Colégio Santos Dumont pode-se afirmar que são preocupantes e, com certeza, não fogem a regra das demais escolas do país.
Os dados de evasão são alarmantes: da maioria dos jovens que entra nesta etapa escolar, menos da metade permanece até o final. As listas de chamada são razoáveis e poderiam até indicar sala cheia, mas, na realidade, as salas estão esvaziadas. E isso pode ser compreendido por dois perfis de aluno: aquele que desistiu completamente dos estudos e aquele que aparece de vez em quando, o chamado aluno “turista”.
Outro problema diz respeito à qualidade do ensino, não há avanço na qualidade dos alunos que concluem o Ensino Médio. Uma pequena minoria realmente aprende o que deveria. Os alunos se formam com conhecimentos irrisórios, nem todos trazem o mínimo básico do conteúdo dos anos iniciais necessário, boa parte chegam aos anos finais sem se quer serem “alfabetizados”. Diante de tal fato os professores ensinam o mínimo do mínimo, a maioria dos alunos sai do Ensino Médio como “analfabetos funcionais” (não fazem cálculos básicos e não conseguem entender textos longos).
De acordo com as discussões do grupo de estudo e com o PPP, os alunos do Ensino Médio e Profissionalizante tem cerca de 15 a 21 anos aproximadamente.
No que trata do aspecto sócio- econômico dos pais e dos alunos matriculados no Ensino Médio e que encontram-¬se trabalhando, boa parte está na informalidade e mantêm suas famílias com uma renda mensal que vai de um a três salários mínimos. Os alunos são oriundos de classes sociais menos privilegiadas, que estão vulneráveis ao uso de drogas, violência. Esses alunos, em sua grande maioria, moram em submoradias e precisam trabalhar para ajudar no sustento da família. Seus pais não concluíram os estudos, não percebem a importância do estudo e também não demonstram interesse pela vida escolar de seus filhos. Muitos não almejam uma prespectiva de um futuro profissional legalizado, pelo fato de participaram do tráfico ou estarem realizando situações ilícitas.
Diante desse contexto, o Colégio Estadual Santos Dumont vem buscando aproximações junto a parceiros potenciais, atuantes na região, a fim de melhorar as condições para o aprendizado, estando alguns alunos vinculados a programas que fornecem bolsas de auxílio familiar e que monitoram o rendimento e frequência dos alunos às aulas.
A partir de levantamentos realizados e de conversas informais, pode-se afirmar que os alunos do período noturno, em sua grande maioria, são trabalhadores com uma trajetória de exclusão escolar ligada principalmente a uma precoce inserção no mundo do trabalho, obviamente por questões de sobrevivência.
A maioria desses alunos afirma ter voltado a estudar buscando melhores condições de trabalho e de vida, visto o alto índice de desemprego e a necessidade de qualificação profissional. Afirmam também que é pela via da educação escolar que terão uma vida melhor. Eles buscam sucesso profissional e realização pessoal, embora manifestem muita insegurança e incerteza frente ao futuro, em decorrência de alto índice de desemprego nesta sociedade competitiva e excludente.
Ao analisarmos os dados do SAEP, Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Paraná, que traz os índices de rendimento escolar, evasão, abandono, repetência, com base nos dados do Censo Escolar, em relação ao nosso colégio, houve uma queda significativa da procura dos alunos para o Ensino Médio e Profissionalizante. Mediante essa constatação, a equipe gestora está fazendo um levantamento da necessidade e procura de cursos junto a comunidade onde a escola está inserida para que, dentro das possibilidades o colégio junto à SEED, possa ofertar cursos profissionalizantes que atendam a demanda.
Sob a concepção de que uma formação humana integral começa na luta pela igualdade, há de se considerar que todas as modalidades que são contempladas pelo Ensino Médio (diurno ou noturno, escola rural ou escola urbana, jovens ou adultos) tenham acesso à mesma qualidade de ensino.
Uma formação humana integradora significa que todos os aspectos estejam contemplados: tecnológicos, científicos, humanísticos e culturais. Essa formação deve ir além da preparação para o mercado de trabalho ou o acesso ao vestibular. Deve ser uma formação que desenvolva senso crítico, autonomia e emancipação do indivíduo.
Por isso, esta formação humana integradora precisa desenvolver no aluno uma compreensão abrangente do significado econômico, social, histórico, político e cultural das ciências, letras e artes. O currículo das diversas disciplinas, equiparadas em grau de importância, devem unir teoria e prática.
No entanto, o currículo é um dos maiores problemas do Ensino Médio. Reformado nos últimos anos, mas ainda inchado por 12 ou 13 disciplinas obrigatórias, ele tem sido considerado excessivamente extenso para os três anos de Ensino Médio. Reunir as disciplinas em áreas do conhecimento, como sugere o ENEM, é uma das propostas para desinchar o conteúdo dessas disciplinas. Porém, essa proposta esbarra-se na dificuldade da interdisciplinaridade.
Outra dificuldade está na distância entre o conteúdo das disciplinas apresentado aos jovens e a realidade da vida que eles levam. A escola continua muito tradicional, engessada diante da vida dinâmica do adolescente contemporâneo. Pode-se certamente afirmar que a “escola é desestimulante e chata”.
Enquanto os jovens estão integrados às novas tecnologias, como internet e tablets, a maioria das escolas não faz integração de conteúdo e tecnologia.
Por outro lado, os professores sentem-se desestimulados porque, embora os problemas estejam na escola, eles não podem ser resolvidos pela escola. Para ensinar, seria esperado que os professores estivessem entre os profissionais mais bem preparados da sociedade. No entanto, décadas de salários baixos e péssimas condições de trabalho desestimulam os atuais professores e afastam da carreira a maioria das pessoas com os melhores desempenhos enquanto estudantes, fato real é observar quantos professores estão fazendo, participando dessa proposta e quantos já desistiram, desestimulados com a profissão.
Para uma nova escola e universalização do ensino é necessário investimento e formação de professores. O professor deve ter estímulo para estudar e encontrar estratégias para trabalhar com o jovem. A maioria dos professores desembarca na sala de aula sem nenhuma estratégia para despertar o interesse de jovens inseridos em um mundo no qual o conhecimento escolar deixou de fazer sentido diante da internet.
Na verdade, as deficiências de nossos mestres começam no nível mais básico. Os acadêmicos das licenciaturas sabem pouco de didática, já que aprenderam teorias vazias e recheadas de ideologias superficiais.
Para que se avance na direção de materializar a concepção de formação humana integral, é fundamental compreender que a histórica dualidade estrutural na esfera educacional não é fruto da escola, mas da sociedade dividida em que se vive, por imposição do modo de produção capitalista. Isso exige que a escola se estruture de forma dual no sentido de fortalecer o modo de produção do capital que se baseia na valorização diferenciada do trabalho intelectual e do trabalho manual. Portanto, romper essa dualidade estrutural da educação escolar completamente não depende apenas do sistema educacional, mas, antes, da transformação do modo de produção vigente.
Contudo, isso não significa que desde a educação deva-se esperar que ocorra primeiramente a superação do atual modo de produção para, somente depois, construir-se uma escola compatível com o novo o modo de produção. É preciso atuar em meio às contradições do modelo hegemônico vigente no sentido de produzir movimentos que contribuam para o rompimento da dualidade educacional, o que também contribuirá para a superação do sistema capital.
Enquanto houver adolescentes que precisam deixar a escola em prol de manterem a entrada do alimento e da sobrevivência em seus lares, o quadro de abandono, evasão e pouco domínio dos conhecimentos básicos da educação integral vai sempre apresentar desfalques e injustiças.
A chegada à universalização do Ensino Médio exige alterações profundas e simultâneas em todas as esferas da educação brasileira: não é válida a mudança nas Universidades, se a educação básica estiver aquém das expectativas e vice-versa.
Universalizar o Ensino Médio, isto é, assegurar que toda a população de 15 a 17 anos frequente as séries adequadas a cada idade, vai exigir, em primeiro lugar, que os alunos com 15 anos ou mais que estão no ensino fundamental cheguem e sejam incorporados ao Ensino Médio. Além disso, são necessários levantamentos confiáveis sobre os jovens que estão fora da escola – seja por cursarem a Educação de Jovens e Adultos, por terem abandonado a escola ou por não terem acesso ao Ensino Médio em seus municípios – e colocar em prática estratégias para que concluam sua escolaridade.
Mas os desafios não se esgotam aí. Não basta aos jovens frequentar a escola, mas especialmente construir aprendizagens relevantes e significativas ao longo de sua escolaridade. E isso se faz numa escola genuinamente para jovens, resolvendo de vez a crise de identidade do Ensino Médio. Educar para a vida, não para “passar no vestibular”. E educar para a vida é ensinar o que faz sentido, não apenas o que é pragmático.
Para grande parcela dos jovens, a escola tem sido um espaço de desalento e desesperança. Mudar, nesse contexto, significa abandonar alguns paradigmas sobre o que é ensinar e aprender, voltar os olhos para a educação básica e a formação de professores, rever e revitalizar os compromissos com a escola e o aluno.
E isso precisa ser feito com o direcionamento dos recursos financeiros para o Ensino Médio, que sempre viveu com as sobras do Ensino Fundamental; com políticas focadas na educação básica; e com professores bem formados e melhor remunerados.
Mais que com palavras, menos ainda as demagógicas, mas com o compromisso de construir coletivamente a escola que faça diferença na vida dos jovens e na vida do País.
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