Caderno VI

Uma interpretação do caderno VI
Jeremias, Leila e Jauri
Os professores há muito tempo vem se debatendo em torno do tema “Avaliação”, mas até hoje parece continuar sem solução, pelo menos, para a maioria dos professores e também para outros profissionais da educação. Portanto, cabe uma reflexão sobre o assunto e se possível apontar algumas sugestões para novas objeções e afirmações até encontrar uma posição que se aproxime do incontestável.
O caderno VI chama a atenção para o fato de que a avalição deveria levar em consideração a diferença das pessoas, e sugere também que é uma ilusão pensar que a avalição garante a qualidade no ensino, simplesmente porque nessa forma de apreciação está implícito uma série de interesses, como por exemplo, a lógica de mercado, que devido à concorrência e o lucro, acaba levando a um tipo de forma que consiste naquilo que constantemente acontece, premiar e punir.  Além disso, aquele que elabora a avalição, consciente ou inconscientemente, coloca suas crenças, valores, hábitos, costumes e visões de um modo geral que ao invés de orientar para um conhecimento mais sistematizado acaba conduzindo para uma argumentação quase que totalmente contraditória.
Não só essas considerações, mas esse mesmo caderno aborda também sobre outros tipos de avalição como somativa, formativa, participativa, global e continuada, integrativa e processual. No entanto, todas essas formas acabam conduzindo à exclusão, e, por isso, seria interessante um afastamento dessas tantas considerações, mesmo porque a capacidade humana não dá conta de trabalhar com um volume tão grande de incógnitas ao mesmo tempo. Diante disso, necessário se faz buscar algo mais universal para realizar tal tarefa que tanta discussão e desencontros já aconteceram e continuam a acontecer entre professores, alunos, pais de alunos, e principalmente com as equipes pedagógicas. Nesse sentido, vale lembrar que as relações de produção na qual estamos inseridos determinam nossa forma de pensar e organizar nossas atividades. Por isso, buscar a origem e o desenvolvimento dessas relações certamente contribuirá para um pensamento mais bem elaborado tanto em relação à avaliação como a educação de um modo geral.
Este modo de produção sob o qual nos encontramos teve sua origem por volta do século XV e XVI. Inicialmente, a produção era artesanal, mas a lógica do lucro exigiu um aumento na produção que necessariamente fez passar do artesanato para a manufatura, onde ocorreu a divisão social do trabalho e consequentemente o aumento da produção e da qualidade dos produtos, uma vez que cada trabalhador passou a fazer uma pequena parte do produto. Porém, esta forma de produzir, de um lado propiciou maior produção e qualidade, mas por outro deu início a alienação do homem, separação entre o homem e seu produto, tendo em vista o fato de que o trabalhador passou a executar apenas uma parte da operação e daí para frente não precisou mais ficar anos a fio aprendendo um ofício. No entanto, nunca mais se tornou independente, porque de agora em diante tornou-se refém dos donos dos meios de produção para poder arrumar um trabalho.
Mais adiante veio a indústria moderna que consiste na separação do trabalho braçal e intelectual. Com isso, a ciência se desenvolveu e também a tecnologia, que consiste na aplicação dessa ciência às atividades de produção. Porém, o trabalho puramente intelectual acabou por tornar a ciência burocratizada e, assim, o pensamento científico, ou sistematizado, foi se descolando da base material e se tornando teorias e mais teorias que não mais se combinam com o mundo material. As consequências disso na educação aparecem da seguinte maneira nas palavras de Marx (apud Dangeville, 1978, p.60)
“O exame não passa do batismo burocrático da ciência profana em ciência sagrada: cada exame implica, como lhe sendo próprio, que o examinador saiba tudo. Não há conhecimento de que os cidadãos gregos ou romanos tenham feito exames.”
Explicando melhor, O Estado compreende um conjunto de regras ou normas que não se combina com a existência da população, e a educação é construída sob esse edifício falso mantido e defendido pela burguesia, classe que domina economicamente, politicamente e ideologicamente, e, desse modo, acaba mantendo a classe trabalhadora alienada e iludida através dessa burocracia que constitui o Estado. Os currículos escolares estão carregados de formas abstratas descoladas do verdadeiro conteúdo e que não faz sentido nenhum exigir através de uma prova que ele, o aluno, tenha de gastar horas a fio repassando e ruminando essas ideias sem base material e que servem apenas para ingressarem no carreirismo do Estado e dar continuidade nessa burocracia incompatível com o conteúdo existente.
Diante disso, seria melhor que a escola se desfizesse de todas essas formas de avaliação para dar lugar a um centro de estudos que possibilitasse uma discussão no sentido da afirmação e objeção dos conteúdos até aproximar-se de algo quase que incontestável. E, ao invés de uma prova, o aluno fosse acompanhado e orientado pelos professores na perspectiva de seguir sua habilidade peculiar e assim encaminhá-los para uma atividade na qual ele pudesse ter um aproveitamento melhor de seu tempo e com isso criar a possibilidade do aluno vir a sentir-se mais satisfeito e feliz.