Caderno II O Jovem como Sujeito do Ensino Médio - Projeto de vida, escola e trabalho
COLÉGIO ESTADUAL PROFESSORA IARA BERGMANN – EFM
CURITIBA - PR
Projeto de vida, escola e trabalho!
Projetar-se na vida é algo que está intimamente ligado a escolhas e possiblidades que nós humanos possuímos, ser vivo é escolher e afirmar-se diante da morte nessa luta constante entre ser e não ser, entre movimento e inércia. O Ensino Médio como possibilidade de escolha para os jovens é a possibilidade de uma construção de si mesmo e de conhecimento próprio que está intimamente ligada a sua realidade material, intelectual, espiritual e emocional. Como o texto traz nessa passagem: “Mas nesta fase da vida, além da tendência do jovem em se defrontar com a pergunta “quem sou eu?”, é muito comum indagarem: “para onde vou?”; “qual rumo devo dar a minha vida?” (BRASIL, 2013, p.30) traz em si a relevância da educação para formação desse menino ou menina que se perceberá cedo ou tarde responsável pelo peso que a liberdade exercerá sobre os próprios ombros. Entretanto, fazer um projeto de vida não inclui apenas traçar metas matérias, fazer um projeto de vida inclui solucionar dramas existências, realizar metas intelectuais, alcançar satisfações emocionais e desfrutar de bens materiais. Não há uma possibilidade simples ou compacta como nossa sociedade fast-food nos apresenta diariamente nos meios midiáticos para a realização de nossos projetos existências, é aqui que o Ensino Médio entra como possibilidade e efetivamente realidade em que aluno se prepara para as delícias e mazelas de cada projeto existencial .
Relativo ao caminho que deve ser tomado na vida pelos jovens fica a critério de cada um, porém as “paradas” que a sociedade construiu historicamente para as possíveis escolhas desses jovens através de suas instituições é que devem ser interrogadas, aqui cabe a pergunta: Afinal, qual é a contribuição que o ensino médio pode fornecer para o jovem em seus projetos de vida? Em sua territorialidade? Em sua relação com o mercado de trabalho? Pergunta que não é simples de responder, pois não se restringe somente ao currículo que é apresentado ao jovem na sala de aula, mas também em como a educação é compreendida pelas instituições norteadoras da sociedade e seus poderes (Legislativo, executivo e Judiciário) e pelo papel que a escola ocupou na vida dos pais e do próprio jovem até o ingresso no ensino médio.
Buscar uma forma de não apenas formar mão de obra para um mercado de trabalho, que no caso do Brasil essa mão de obra é desqualificada, mas sim formar um cidadão para atuar no mercado de trabalho com uma perspectiva social, econômica e política que vise uma atuação crítica na sociedade é um horizonte que o ensino médio deve buscar. Historicamente na construção educacional do país ocorreu uma implantação de modelos de educação desde os jesuítas. Como exemplo podemos pegar um modelo educacional que passa por interesses de uma classe latifundiária, e um segundo modelo é destinado para um público desprovido de posses e de espaço político isso em meados do século XIX. Muito tempo depois sofremos com uma educação voltada para interesses específicos de grupos que se mantém no poder político e econômico a décadas. O jovem está inserido nesse contexto com suas dúvidas e ambições que norteiam seu autoconhecimento e interpretação da realidade. Seria uma abordagem interessante em todo processo do ensino médio (em sua duração de 3 anos) que o currículo permitisse ao professor e educando práticas que possibilita-se uma experiência educacional que abrange-se as particularidades do território em que esse aluno se encontra, que orienta-se nas possibilidades mercadológicas que suas aptidões lhe possibilitam, sendo que a construção do seu projeto de vida possa se orientar de forma mais consciente e ativa na vida social de cada jovem.
Nem todos na sociedade precisão ser grande políticos, mas todos precisam possuir consciência e prática da ação política. Nem todos na sociedade precisam ser empresário milionários, mas todos devem ter dignidade e acesso a um desenvolvimento econômico justo. Projetar-se na vida é projetar-se na sua comunidade escolhendo não a partir dos outros ou das circunstâncias, mas escolher a partir de si mesmo. Poucos ambientes são tão favoráveis para tais experiências sócias do que a escola. Sendo assim Sartre traz uma passagem relevante ao tema pois: “O homem é, não apenas como é concebido, mas como ele se quer, e como se concebe a partir da existência, como se quer a partir desse elã de existir, o homem nada é além do que ele se faz.” (SARTRE, 2010, p.25). Como isso todo o contexto territorial, o projeto de vida e o mercado de trabalho em que o aluno se faz atuante em determinado momento o professor participará desse universo de construção de possibilidades na vida do aluno dentro da sala de aula. Desta forma o professor enfrenta “o grande problema que se coloca ao educador ou à educadora de opção democrática é como trabalhar no sentido de fazer possível que necessidade do limite seja assumida eticamente pela liberdade.” (FREIRE, 1996, p.105), diante disso o enfrentamento do professor necessita de uma ação pedagógica que vise contemplar essa complexidade. Diante disso numa tentativa de conhecer mais afundo a realidade e os anseios de vida de nossos alunos do Ensino Médio noturno do Colégio Estadual Professora Iara Bergmann, realizamos um levantamento de dados mediante questionários sobre a vida profissional, suas expectativas diante da escola e seus projetos de vida. Buscamos problematizar as múltiplas dimensões que configuram o perfil de nossos alunos a fim de compreender sua relação com o trabalho, conhecimentos de seus direitos trabalhistas, compatibilidade salarial e condições de trabalho. Também colocamos questões referentes às expectativas diante da escola para sua formação acadêmica e profissional e sobre seus anseios pessoais em relação ao futuro.
Numa tentativa de conhecer mais afundo a realidade e os anseios de vida de nossos alunos do Ensino Médio noturno do Colégio Estadual Professora Iara Bergmann, realizamos um levantamento de dados mediante questionários sobre a vida profissional, suas expectativas diante da escola e seus projetos de vida. Buscamos problematizar as múltiplas dimensões que configuram o perfil de nossos alunos a fim de compreender sua relação com o trabalho, conhecimentos de seus direitos trabalhistas, compatibilidade salarial e condições de trabalho. Também colocamos questões referentes às expectativas diante da escola para sua formação acadêmica e profissional e sobre seus anseios pessoais em relação ao futuro.
Mediante os dados obtidos conseguimos perceber que 44% deles já se encontram inseridos no mercado de trabalho, 28% já trabalharam, mas atualmente estão fora do mercado de trabalho e 28% nunca trabalharam. Dentre os que estão trabalhando, 26% se encontram na indústria, 19% atua no setor de comércios e vendas, 11% como atendente e 4% trabalha em mercado assim como na construção civil. Outras atividades como pizzaria e mecânico de automóveis foram mencionadas como ocupações de nossos alunos.
A decisão de trabalhar já na idade escolar é motivada por razões diversas. Dos estudantes que responderam ao questionário, 70% revelou que o principal motivo é se tornar independente. Ajudar nas despesas da casa apresentou um grau de importância significativo, pois, 40% considerou como muito importante ajudar com as despesas. Aproximadamente 20% revelou ser importante adquirir experiência de trabalho, tão requisitada a um candidato a uma vaga de emprego, e, podemos perceber que uma pequena parte destes alunos, cerca de 18%, é responsável pelo sustento da família. No que se refere aos direitos trabalhistas, 63% tem a carteira de trabalho assinada, 18% são estagiários, 15% não desejam tal prática e apenas 4% afirmam que o empregador não assina porque não quer. Entre os que responderam à pesquisa e que trabalham atualmente, 63% deles têm diz ter consciência plena de seus direitos, embora outros 30% afirmam que conhecem pouco seus direitos. A relação no ambiente de trabalho ocorre de maneira respeitosa para quase 60% dos estudantes que trabalham, para 25% é relativamente respeitosa e 8% sente-se pouco respeitado. As condições de trabalho são consideradas como ótimas por 41% e como boas para 48%. Os estudantes afirmaram não trabalhar em condições precárias. A compatibilidade salarial é considerada como ótima por 18% e 30% considera boa. Uma quantidade considerável, cerca de 26% considera seu salário muito baixo de acordo com a função que desempenha.
Em relação ao trabalhar e estudar ao mesmo tempo podemos verificar um conflito de opiniões. Não consideram o trabalho como empecilho para os estudos cerca de 52% dos estudantes, por outro lado, 33% afirma que o trabalho atrapalha o estudo. 15% avalia como importante para o seu crescimento pessoal e profissional.
No quesito, expectativa para o futuro se apresentam variáveis interessantes. Para muitos deles a escola representa um meio de melhorar sua formação pessoal e intelectual para conseguir um melhor emprego e consequentemente uma melhor remuneração como também a busca de uma formação superior. Entre as profissões e formações almejadas estão: medicina, biotecnologia, biologia, psicologia, engenharia mecânica, veterinária, jogador de futebol, carreira militar, advocacia, skatista, astronomia, antropologia, eletricista, administração, contabilidade, ator e ser empresário. Uma pequena porcentagem pensa em investir em cursos e formação profissional sem escolher, ainda, uma profissão. Podemos perceber também que todos eles planejam formar uma boa estrutura familiar, ter casa própria, ser um profissional bem sucedido e ter uma vida melhor, ser alguém na vida e tornar-se independente. Cabe a nós, educadores e educadoras, sermos coadjuvantes como intelectuais orgânicos na formação integral de nossos alunos, estarmos atentos aos seus anseios e realidades, a fim de plantarmos sementes de esperanças e formação cidadã.
REFERÊNCIAS:
BRASIL, Secretária de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio etapa I- Caderno II: O jovem como sujeito do ensino médio. Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2013.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
SATRE, Jean Paul. O existencialismo é um humanismo. Petrópolis: Vozes, 2010.
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