Caderno 4 - Reflexão e ação 3: Elaboração coletiva da proposta curricular integrada
COL. EST. PROF.VICTÓRIO E. ABROZINO
CASCAVEL-PR
Adriana Aparecida Biancato
Ana Rita Machado
Evi Weber
Juliana Gobbi
Roseny Dalla Valle
Elaboração coletiva da proposta curricular integrada
Momento da elaboração
1. O lixo é um fato que deve ser analisado em suas múltiplas perspectivas:
• Tecnológica – essa dimensão é bastante pesquisada, diante do rápido avanço tecnológico, que nos leva a refletir sobre como as tecnologias são construídas e aplicadas, seu uso e descarte adequados, uma vez que é crescente o consumo e dependência tecnológica de produtos que velozmente se tornam obsoletos, gerando grande quantidade de resíduos. Nesse sentido, essa esfera está incutida em todas as perspectivas, como econômica, histórica, ambiental, social e cultural. Além disso, pelo viés tecnológico também se garante ainda a possibilidade de geração de energia elétrica e térmica.
• Econômica – com o crescimento das cidades, o desafio maior em relação à limpeza urbana não reside apenas em remover o lixo, mas sobretudo, em dar um destino final adequado aos resíduos que são coletados. O reaproveitamento /recuperação de resíduos favorece a relação custo-benefício, ofertando produtos com qualidade sem o esgotamento dos recursos naturais. Além disso, pode ser fonte de renda para indivíduos que poderão fornecer a matéria prima para alimentar esse processo.
• Histórica – a compreensão tradicional das relações entre sociedade e natureza desenvolvidas até o século XIX, vinculadas ao processo de produção capitalista, considerava o homem e a natureza como polos excludentes, tendo a concepção de uma natureza objeto, fonte ilimitada de recursos à disposição do homem. Com base nessa concepção, desenvolveram-se práticas, por meio do processo de industrialização, em que a acumulação se realizava por meio da exploração intensa dos recursos naturais, com efeitos perversos para a natureza e os homens.
• Ambiental – é preciso buscar soluções para o desperdício produzido pela sociedade de consumo incentivada e uma vez que a realidade que implica viver em uma sociedade consumista, aliada ao fato de que somos cada vez em maior número de habitantes no planeta, nos leva a refletir e buscar formas alternativas a esse sistema excludente e degradante. Nesse contexto, a coleta seletiva é uma boa alternativa para o enfrentamento dessa realidade, pois promove a redução de lixo, o reaproveitamento e reciclagem de matérias primas, a geração de renda com inclusão social, assim como também minimiza o impacto ambiental causado pelo aterramento dos resíduos. Porém não é uma solução, o trabalho da coleta seletiva deve ser valorizado junto com uma maior conscientização ambiental para a minimização do consumo.
• Social – apesar de o fator ambiental ser atualmente o mais discutido, a dimensão social é tão importante quanto as demais, pois trata do aspecto humano, a partir do momento em que inclui na sociedade indivíduos excluídos do mercado de trabalho e da vida social, como ocorre com os catadores de materiais recicláveis, por exemplo.
• Cultural – o lixo é uma consequência da sociedade capitalista e da revolução industrial, pois resíduos ganham proporções de maior problema ambiental urbano, somado a crise que se apresenta no mundo do trabalho, evidenciada no aumento do desemprego e do emprego precário, tendo como consequências altos índices de exclusão e desigualdades sociais. Para José Carlos Rodrigues (1995), é possível retomar as mentalidades e as sensibilidades associadas a esta questão, pois muito mais importante do que fazer uma história do lixo e entender o lixo em si como objeto, é compreender as mentalidades e as sensibilidades que puderam ‘inventar’ algo como sendo lixo. Segundo Silva (2006), observando as novas roupagens em torno do lixo e dos catadores de materiais recicláveis, foi possível perceber que o trabalho dos catadores marca o surgimento de novos mercados, como o da reciclagem, representando para os catadores uma fonte de renda e de percepção social, retomando vínculos de pertença social e territorial, assim como autoestima e dignidade.
Resultado da elaboração
No que tange às questões que servem à seleção de conteúdos, ou seja, à seleção de conhecimentos necessários para resolver a problematização mencionada que trata da temática do lixo, podemos explicitar:
• Podem ser reaproveitados todos os resíduos? E de que forma isso pode ser feito?
• Quais os aspectos positivos e negativos desse reaproveitamento?
• Como movimentar os órgãos públicos responsáveis em manter um ambiente saudável aos habitantes?
Momento da elaboração
2. Se analisarmos algumas definições acerca do meio ambiente, fica evidente que precisamos entendê-lo não só como fonte de recursos naturais, mas também é preciso se levar em conta as relações do homem com este, o que nos leva refletir sobre os impactos das atividades humanas sobre a natureza. Subsidiando essa ótica, têm-se teorias e conceitos fundamentais que possibilitam uma melhor compreensão desse contexto, e que, pode ser estudado nas múltiplas perspectivas já mencionadas, mas tendo como anteparo teórico as questões fundamentais que tratam acerca de matéria e energia, bem como a sustentabilidade, permeados pelo gênero textual.
Resultado da elaboração
No que se refere à seleção integrada dos conteúdos de ensino, com os principais conceitos e teorias que subsidiam a solução dos apontamentos e da problematização do lixo e suas múltiplas dimensões, podem ser selecionados os conteúdos de ensino:
o Termodinâmica
o Entropia
o Espectro eletromagnético
o Gestão de resíduos
o Fenômenos reversíveis e irreversíveis
o Mineralogia
o Processos de separação de misturas
o Conservação e transformação de energia
o Gráficos
o Matemática estatística
o Ética
o Trabalho, alienação e consumo
o Correntes migratórias
o Riscos biológicos
o Microbiologia
o Endemia, pandemias e epidemias
o Políticas públicas
o Gêneros textuais
o Finalidades e interlocutores;
o Situações e temáticas que exigem a produção do gênero;
o Estrutura do texto / disposição gráfica;
o Recursos linguísticos utilizados no gênero.
Momento da elaboração
3. Para satisfazer a imensa abrangência da temática do lixo, recorre-se às teorias e os conceitos explicitados nos diversos campos da ciência, tais como:
• Ciências humanas – trabalho, alienação, consumo, ética, políticas públicas, processo de industrialização, economia.
• Ciências da natureza – física térmica, eletromagnetismo, mecânica, composição química e resistência dos materiais, separação de misturas, ecologia, cadeia alimentar, microbiologia e segregação dos resíduos.
• Ciências exatas – tratamento de dados estatísticos e economia.
• Linguagens – gêneros textuais.
Resultado da elaboração
Somente identifica-se, assim, a raiz epistemológica desses conhecimentos explicitados, de modo que os componentes curriculares adquiram sentido e propósito no currículo em vez de apenas reproduzirem as orientações de livros ou manuais didáticos, à luz da perspectiva materialista histórico – dialética. Segundo Lima (2001), a investigação científica é um ato de construção, onde cada envolvido não é apenas mais um dado, uma mera informação, pelo contrário, contribui de maneira singular para o desenvolvimento de uma ou mais respostas adequadas ao problema suscitado pelo pesquisador. O desenvolvimento satisfatório de uma investigação científica está intimamente ligado ao compromisso assumido pelo investigador em relação ao objeto pesquisado (LIMA, 2001). O desenvolvimento das pesquisas científicas na área da educação é, ainda, um processo embrionário e em construção, muito se tem a caminhar (DEMO, 1995; GATTI, 2001, 2002; NARDI, 2007). Para Pires (1997), este aspecto central em todas as ciências, pode ser compreendido a partir de diferentes abordagens, entre as quais, o materialismo histórico-dialético. Para Frigotto (1997), o materialismo histórico-dialético como instrumento lógico de interpretação da realidade, contém em sua essencialidade lógica a dialética, e neste sentido, aponta um caminho epistemológico para a referida interpretação. A negação deste caminho, portanto, representa a descaracterização de uma efetiva compreensão acerca da epistemologia marxiana. Assim, segundo Kosik (1969), assumir o materialismo histórico-dialético (MHD) enquanto pressuposto epistemológico que orienta a investigação implica entender que este é atributo da realidade e não do pensamento. No campo das ciências humanas e sociais, especificamente na pesquisa educacional, isso aponta o caráter sincrônico e diacrônico dos fatos, a relação sujeito-objeto, ou seja, o caráter histórico dos objetos investigado. Habermas (1982) complementa que no tocante ao conhecimento, cabe enunciar que o MHD não atinge o pensamento de fora para dentro, nem tampouco constitui uma de suas qualidades; o conhecimento é que é a própria dialética em uma das suas formas; o conhecimento é a decomposição do todo. O conceito e a abstração numa concepção dialética têm o significado de método que decompõe o todo para poder reproduzir espiritualmente a estrutura da coisa, e, portanto, compreender a coisa. Nesse sentido, conforme Benite (2009) destaca, sob o enfoque do MHD não basta apenas constatar como as coisas funcionam e estabelecer conexões entre fenômenos educacionais. Trata-se de compreender que vivemos numa sociedade capitalista, universalizadora do valor de troca e alienada que precisa ser superada. Dito isto, retome-se o presente, onde sob o julgo da ideologia neoliberal é cada vez mais urgente a crítica ao que se ensina em nome da apropriação do conhecimento científico, e para efetivar esta crítica defende-se a epistemologia marxiana.
Momento da elaboração
4. Dentro das questões levantadas sobre o reaproveitamento de resíduos e de que como é feito, bem como os aspectos positivos e negativos desse reaproveitamento estabelece-se aproximação das teorias relacionadas à transformação energética, processos reversíveis/irreversíveis, entropia, sustentabilidade, processos de produção, regulamentação pública, organização social e ética.
Resultado da elaboração
Quanto à ampliação e complementação dos conteúdos de ensino selecionados a partir da problematização, considerando que a aprendizagem real de um conceito, implica apreendê-lo na relação com outros conceitos que dão unidade epistemológica a um campo científico. Nesse sentido, pela ótica do tema abordado, há possibilidade de o aluno fazer elos de determinados conteúdos em suas dimensões e nas diversas áreas, como os processos de transformação de energia e reversibilidade (física), que supõe seu entendimento acerca da matéria e sua composição (química), decomposição/sustentabilidade (biologia), processos de produção.
Momento da elaboração
5. Segundo Japiassu (1976) a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de um projeto específico de pesquisa. Travassos (2006) complementa que a natureza interdisciplinar da Educação Ambiental, uma vez que o meio ambiente é multifacetado e para tanto, deve ser tratado de maneira integradora na tentativa de solucionar os problemas ambientais. Assim, nessa ótica, alguns conceitos permeiam algumas áreas do conhecimento, de modo que, num processo simultâneo e interdisciplinar é possível uma visão completa acerca do tema, tais como:
• Ética (humanização)
• Reversibilidade e equilíbrio químico(química)
• Ecologia (biologia)
• Estática dos corpos rígidos e fluidos (física)
Resultado da elaboração
Tem-se como indicação de abordagens interdisciplinares necessárias à explicação da problemática do lixo em sua totalidade:
• Pesquisa de campo;
• Visitas técnicas;
• Reaproveitamento e reutilização de materiais (química dos materiais);
• Leitura;
• Pesquisas bibliográficas.
BIBLIOGRAFIA
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AGENDA 21. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. , Rio de Janeiro: 1992. Disponível em <www.mma.gov.br> Acesso em 12 nov. 2º14.
BENITE, Anna Maria Canavarro. Considerações sobre o enfoque epistemológico do materialismo histórico-dialético na pesquisa educacional. Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão (LPEQI), Instituto de Química, UFG. Revista Ibero-americana de Educação. ISSN: 1681-5653. N.º 50/4 – 25 de setembro de 2009. Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI)
BRASIL, Presidente. O desafio do desenvolvimento sustentável: Relatório de Brasil para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Brasília: Secretaria de Imprensa, 1991.
DEMO, P. Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo: Editora Atlas, 1995.
ERVOLINO, Mônica Laura Caroli; SILVA, Cláudia Neves da. A dimensão socioeconômica e ambiental da coleta seletiva de resíduos sólidos recicláveis na cidade de Londrina. UEL, 2008. Disponível em < http://www.uel.br/eventos/sepech/sepech08/arqtxt/resumos-anais/MonicaLCE... Acesso em 08 no. 2014.
FRIGOTTO, G. O enfoque da dialética materialista histórica na pesquisa educacional. FAZENDA, I.C.A. (org.). Metodologia da pesquisa educacional. São Paulo: Cortez, 1997.
GATTI, B.A. A construção da pesquisa em Educação no Brasil. Brasília: Plano, 2002.
GATTI, B.A. Implicações e Perspectivas da Pesquisa Educacional no Brasil Contemporâneo. Caderno de Pesquisa, 2001,
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HABERMAS, J. Conhecimento e Interesse. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
KOSIK, K. Dialética do concreto. Trad. Célia Neves e Alderico Toríbio, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
LIMA, P.G. Tendências Paradigmáticas na Pesquisa Educacional. Dissertação de Mestrado. UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2001.
NARDI, R (org.) A pesquisa em Ensino de Ciências no Brasil: alguns recortes. São Paulo: Escrituras Editora, 2007.
PIRES, M.F.C. O materialismo histórico-dialético e a Educação. Interface – Comunic. Saúde, Educ., 1997, 1, 1, p.83-94.
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