Caderno 1 - Reflexão e Ação - Grupo do Colégio Est. Mal. Gaspar Dutra - Nova Santa Rosa
Pacto de Fortalecimento do Ensino Médio
Grupo do Colégio Estadual Mal. Gaspar Dutra – Nova Santa Rosa - Paraná
Caderno 1 – Reflexão em Ação –
1. Através da reconstrução histórica, percebe-se que muitas lacunas ficaram abertas. Com relação ao investimento financeiro, o texto aponta que muitos já foram feitos e são práticas consolidadas, porém percebemos que nem todas as escolas têm acesso a esses investimentos, a esses programas, resta saber se são problemas de gestão da própria escola, ou se realmente os recursos não chegam a todos os estabelecimentos de ensino.
Outra lacuna que percebo é com relação ao investimento em material humano, tenho contato em meu dia a dia com profissionais desmotivados, despreparados e descontentes com a organização do ensino médio, há professores que reclamam da grade curricular, por terem poucas aulas de determinadas disciplinas, falta de apoio e capacitações específicas para as áreas do conhecimento, e também vejo reclamações com relação aos alunos, que estão sem motivação e vontade de adquirir conhecimento, salvo aqueles que têm intenção de ingressar em boas universidades, a grande maioria vem para a escola por mera obrigação.
Acreditamos que a melhor maneira de melhorar o Ensino Médio seria a capacitação adequada de professores que já estão em carreira, melhoria nos cursos de licenciatura e principalmente incentivo para a carreira do magistério, não apenas na questão financeira, mas com valorização das praticas dos professores. É muito difícil pensar em uma maneira de resolver o problema que se constrói há anos, por muito tempo a sociedade perdeu o credito no governo, transferiu esse descrédito à educação e os professores se tornam material de manobra política, pois só vemos investimento na carreira do professor em épocas específicas.
Entendemos também que um dos maiores desafios para o Ensino Médio Brasileiro é fazer com que os alunos permaneçam na escola. Como meta do PNE de 2011-2020 é a universalizar até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85%. Mas o que realmente quer dizer UNIVERSALIZAÇÃO? Ao universalizar o Ensino Médio, apenas se oferece o acesso, se generaliza as vagas, não há enfoque na permanência dos alunos ou condições de estudo ou ainda o término deste, e muito menos na infraestrutura que as escolas possuem.
Outro desafio é exatamente a DEMOCRATIZAÇÃO desse Ensino Médio. Será que os alunos terão condições de frequentar, ou seja, o conhecimento prévio advindo do Ensino Fundamental pode ser considerado conhecimento de base para um modelo de currículo que possui 13 disciplinas fatiadas e desconexas da realidade de muitos cidadãos trabalhadores? Desde o século passado temos o modelo de educação diferenciado, um para os trabalhadores e outro para aqueles que possuem poder aquisitivo.
Aproximando mais da critica real do ao modelo do Ensino Médio, não há formação acadêmica, ou seja, preparo para estudos posteriores como garante a LDB 9394/96 (vestibular) e também não há formação para a cidadania que no mínimo não seja excludente, pois organizado como está nosso sistema de ensino do Ensino Médio, estamos caminhando para lugar nenhum. Quando o PNE denomina que é necessária uma formação humana integral que propõe se a superar a dualidade presente na organização do ensino médio, promovendo o encontro sistemático entre “cultura e trabalho”, fornecendo aos alunos uma educação integrada ou unitária capaz de propiciar-lhes a compreensão da vida social, da evolução técnico-científica, da história e da dinâmica do trabalho.
2. Acompanhando diariamente os alunos, observando seus hábitos, falas, e analisando seu rendimento escolar, interagindo com pais e famílias no geral e também através do diálogo e interação com nossos pares, afirmamos que é muito grande a diversidade dos sujeitos atendidos em nosso Colégio que é também o único no município que oferece o Ensino Médio. São oriundos da zona rural e também da zona urbana, de classe baixa e de classe médio-alta. Muitos trabalham no contra turno escolar, outros trabalham durante o dia e estudam à noite. A grande maioria vem de famílias cujos pais possuem apenas o ensino fundamental ou ensino médio incompleto. Os pais em sua maioria comparecem a escola apenas quando solicitada a presença. A maior parte dos alunos possui acesso aos meios de comunicação, principalmente: celular, televisão, rádio. Em número reduzido, está o acesso a internet. As famílias não possuem hábitos de ler jornal, revistas, entre outros. E em uma pesquisa recente, para a maioria dos pais o objetivo maior do ensino médio deve ser o de preparar para o mundo do trabalho, seguido de preparar para o vestibular e de pouco menos importância formar cidadão de maneira integral. Acreditamos serem estes aspectos relevantes que contribuem para formar o perfil do educando do ensino médio de nosso Colégio.
3. Segundo as DCNEM, as unidades escolares que ministram esta etapa de ensino devem possibilitar o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o prosseguimento nos estudos, a preparação básica para o trabalho e cidadania do educando para continuar aprendendo, o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico, e a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática.
Compreende-se também através dos textos que a prática pedagógica significativa decorre da necessidade de uma reflexão sobre o mundo do trabalho, da cultura desse trabalho, dos saberes constituídos a partir do trabalho e das relações sociais que se estabelecem na produção.
Segundo os documentos norteadores, é neste ultima fase de estudos, ou seja, no Ensino Médio que devem ocorrer o estudo e o aprendizado de métodos criativos na ciência e na vida, não devendo ser deixado apenas a cargo das universidades, mas que os alunos estejam desde seu ingresso nessa modalidade tendo contato com estas possibilidades de desenvolver habilidades criticas e criativas, tanto com relação à teoria quando com relação à pratica.
4. Como foi visto, temos um grave desafio a enfrentar em nossa realidade educacional, quando a metade (50,9%) dos jovens entre 15 e 17 anos não frequenta o ensino médio e aproximadamente um terço (34,3%) ainda está, como repetente ou por ingresso tardio, no ensino fundamental.
Utilizando dados da PNAD/IBGE, vimos que a taxa líquida de matrícula para essa população passa de 17,3%, em 1991, para 32,7%, em 1999, atingindo 44,2% em 2004 e 50,9% em 2009 (IBGE, 2010). Os indicadores apresentados são muito importantes na medida em que expressam a exclusão de grande número de brasileiros do acesso à educação e da permanência na escola, assim como de outros direitos. A relação entre educação e participação no desenvolvimento social torna inadiável o enfrentamento dos problemas. Diante deste quadro, como chegar à universalização do ensino médio?
Inicialmente é perceptível que a taxa de matrícula subiu, mas é necessário mais que isso para que seja atingido o objetivo de 85% de alunos dentro das instituições de ensino. O que não está considerado é como a escola atenderá essa demanda? Hoje da forma como o currículo está organizado não haverá sucesso para essa demanda, pois o Ensino Médio está desconectado da realidade dos alunos trabalhadores. Fazem-se necessários dois focos dentro do Ensino Médio: um para os alunos que não são trabalhadores e querem realizar preparação para o ingresso nas universidades e outro foco para aqueles que querem ou já estão no mundo do trabalho.
Outro aspecto é manter esses alunos matriculados e com frequência, a grande maioria são trabalhadores, que vêm para a escola cansados e sua aprendizagem não ocorre com qualidade devido ao seu esgotamento físico, assim, ao final do bimestre seu resultado não é satisfatório e logo abandonam a escola. E ainda é preciso perceber que muitas disciplinas apenas constam no currículo, mas estão totalmente desconectadas da realidade que o aluno está inserido. É preciso considerar também as condições de trabalho do professor e sua valorização profissional.
Para muitos jovens, freqüentar escola é um a obrigação. A grande maioria está inserida no mundo de trabalho, no nosso caso, principalmente os alunos do noturno e essa realidade dificilmente será mudada. Mesmo que o governo ofereça bolsas ou “incentivo”, o trabalho ainda vai estar presente. Então o que mudar, para tornar a escola atrativa e agradável?
Talvez seja preciso rever alguns paradigmas sobre o que é ensinar e aprender e como efetivamente aprendemos e ensinamos. Retomar a educação básica (acredito que esta preocupação já existe, pois paralelamente a esta formação está acontecendo o pacto da alfabetização) e a formação de professores. Destinar mais recursos financeiros para o ensino médio, uma vez que a prioridade sempre foi o ensino fundamental; rever também a educação básica; estabelecer critérios na formação de professores e que estes sejam mais valorizados. Assumir coletivamente o compromisso de construir uma escola que faça diferença na vida dos jovens. Neste sentido, construir um currículo mais atrativo, mais interessante, com uma metodologia diferenciada. Reorganizar e valorizar diferentes espaços no ambiente escolar. Importante considerar que o ensino médio, mais que um preparar para universidade, é um momento de passagem, de mudança e transformação na vida de um adolescente. Precisamos oportunizar o conhecimento de todas as áreas, para que possa compreender e que as suas escolhas pessoais e profissionais sejam fundamentadas no conhecimento. O ensino médio deve prever a formação de sujeitos autônomos, críticos, criativos capazes de transformar a realidade em que estão inseridos.
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