No Brasil, o ensino médio mostra o real problema educacional, construído historicamente através de uma educação dualista que acentua ainda mais as diferenças sociais, colocando de um lado uma elite acostumada ao comando do poder econômico e político e que passa efetivar tudo isso através de uma educação direcionada e preparatória para sua formação. Por outro lado o trabalhador fica aquém da apropriação de conhecimento de qualidade, democrático e formador de consciência crítica para dar continuidade à servidão de forma conformada.
A primeira Lei Geral da educação pública no Brasil Independente, que
Instituiu o ensino mútuo público e gratuito, foi aprovada em 15 de outubro de
1827, relembrando que essa lei ocorre no período do Primeiro Império, verificamos que não poderia ser diferente, pois o Brasil havia saído de mais de trezentos anos de colônia, onde predominava o serviço escravo e a esse sujeito foi negado à cidadania, não era de interesse que fossem incluídos no sistema educacional, muito menos que almejasse chegar ao Ensino Médio.
Durante o Período Imperial a normatização do ensino médio se dá com a criação dos Liceus e do Colégio Pedro l., esse com intuito de formar a elite nacional de políticos, administrativos e intelectuais, permanecendo assim até a Proclamação da República onde com a nova constituição vão ocorrer algumas mudanças, porém na questão educacional permite a continuidade do sistema dual educacional.
Com o tempo mecanismos foram sendo criados para que a chamada educação popular não incluísse a educação secundária bem como o ensino superior, que apareciam como seletiva. A esse povo trabalhador era destinado quando muito a preparação para o trabalho.
Dessa maneira, as instituições de ensino secundário eram nitidamente seletivas, num triplo sentido: social, pedagógico e profissional.
Vem o período Getulista com o Estado Novo, propondo uma educação inspirada em princípios fascistas, baseada nos valores inquestionáveis da pátria, família e religião.
Para garantir a padronização e domínio do Estado sobre o ensino secundário, a partir de 1942, a etapa escolar seria acompanhada por dois anos pelo Ministério da Educação que tinha como referência o padrão de qualidade nacional do Colégio Pedro l.
Por pressão popular nas décadas de 40 e 50, avanços significativos podem ser notados com a implantação da Lei 5692-71 na Ditadura Militar, onde o Ensino Médio passa ser o ensino técnico bem a gosto de controle social, que irá esvaziar conteúdos essenciais a construção do senso crítico do educando.
Com a Constituição de 88, vem à nova LDB, mas esbarra na interferência estrangeira que ao orientar os rumos da nossa economia vai interferir diretamente no nosso sistema educacional na orientação organizacional e pedagógica, construindo um sistema neoliberal que reflete e intensifica ainda mais a distância entre as classes sociais brasileiras. Novamente graças à reflexão do fórum em prol da educação pública de qualidade onde propõe uma formação humana integral, onde a tecnologia a cultura e o trabalho se dialogam dentro de uma dinâmica natural. Que nossos jovens não se distanciam do saber técnico-científico, dentro da esfera do trabalho.
Quanto aos jovens da nossa escola em particular do ensino noturno, nota-se três fatores fundamentais para o empobrecimento do ensino. Primeiro- o jovem trabalhador que se levanta às 5 h da manhã, trabalha o dia todo e ao chegar à escola (quando vem) dorme e não tem ânimo para interagir. Segundo- o aluno que mesmo sendo trabalhador tem um pouco mais de amparo da família e cumpre uma jornada menor de trabalho, sonha com um futuro melhor e mesmo cansado não apresenta faltas e se empenha nas atividades. Terceiro- o jovem que não trabalha vive em constante vulnerabilidade social e aparece na escola de vez enquanto.
O que fazer para diminuir as distâncias de objetivos numa mesma clientela¿ O professor fica sem saber que estratégia adotar, atender a todos implica em estar sempre recomeçando, atender os que vêm querendo adquirir conhecimento e ampliar os horizontes, estaremos excluindo os demais. O que fazer¿
Buscar novos caminhos para atender essa nova sociedade, pois a escola é apenas o retrato de uma sociedade desigual em todos os sentidos.
Um bom começo é a parada para essa formação específica dos professores de ensino médio, buscando alternativas, juntos com os meios acadêmicos e Governos estaduais e Federal.
Professora Ana Queiroz Pedro
Colégio Carlos Argemiro Camargo
Capitão Leônidas Marques - NRE Cascavel - PR
Fonte:
Caderno 1 - Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio.