O desafio maior do atual ensino médio é curricular. Nosso país precisa criar uma identidade própria, para fazer com que os conteúdos ofertados façam sentido para os alunos, uma vez que a ideia de “preparar o educando para o mercado de trabalho”, esteve presente em várias discussões anteriores. Quando essa linha de ligação entre o ensino médio e o mercado de trabalho começa a ser abalada, com outras possibilidades de acesso aos cursos superiores, pelas classes populares, tais como a criação de novas Universidades, PROUNI, SISU, cotas e outras, começamos a regredir como sociedade à preparação para o ENEM esvaziando novamente os objetivos do ensino médio integral e transformador. Noutros tempos (antes do ENEM), sem o menor sentido prático e estatístico, o que era ensinado baseava-se no argumento “preparação para o vestibular”.
Outra reflexão da problemática do ensino médio está em ver que os nossos adolescentes e jovens são a primeira geração a concluir o ensino médio dentro da idade/série adequadas, e com reais condições de cursar uma faculdade. Porém, seus pais e familiares não possuem a “cultura do estudo”. Logo, as referências de ensino superior para os nossos alunos, ainda são os seus Professores e os Médicos do seu Sistema de Saúde.
Portanto, o ensino médio não é cultural, dificultando o entendimento dos motivos para os quais o aluno deve estudar; sendo que muitos deles vêm para a aula, ou para a escola porque são mandados por seus pais, ou ainda porque o ECA exige.
Apesar de todo investimento e esforço para um Ensino Médio de qualidade conforme descrito na primeira parte do material, há ainda muitos desafios para se alcançar um padrão ideal. Primeiramente, em relação ao quesito formação integral do aluno, seja ele pertencente a qualquer modalidade do Ensino Médio. Para se falar em formação integral pela qual possamos preparar o estudante não só para o mercado de trabalho, mas para a convivência em sociedade e para ser um sujeito crítico, ativo e eticamente participativo em sua realidade, a escola não pode se basear primordialmente no conteúdo. É necessário desenvolver a capacidade crítica, sociável e ética dos alunos privilegiando conteúdos que realmente promovam esta formação. Para isso, deveria haver um afunilamento do conteúdo passando-se a trabalhar conteúdos realmente necessários à vida prática dos sujeitos. Paralelo a isso, é necessário que os valores (sobretudo, o respeito ao ser humano, ao meio ambiente, aos animais, à vida) sejam trabalhados dentro da escola, seja em sala de aula , seja em formação extraclasse. Claro que tal foco acarretaria uma mudança nos posteriores sistema de avaliação: Enem, vestibular, concursos.
Um segundo ponto, diz respeito às práticas em sala de aula que não têm estimulado a autonomia dos estudantes, o que deveria ser o foco no Ensino Médio. Como vem acontecendo a educação continua sendo “bancária”; professores continuam sendo detentores do conhecimento e continuam com o papel de transmitir conhecimento ao aluno. Neste caso, o trabalho com pesquisa, apresentação de trabalhos/resultados, debate de conhecimentos adquiridos, deveria ser prática constantes e por essas atividades deveriam se dar as avaliações. Além disso, os estudantes precisam ter obrigações fora da classe como organização de eventos, festas culturais, etc.
Outro aspecto é em relação ao uso da tecnologia e à relação professor/aluno/tecnologia. Embora haja investimento tecnológico, estudantes e professores, em sua maioria, não sabem canalizá-los a favor de uma educação de qualidade. Cursos práticos sobre como usar as tecnologias oferecidas pela escola, como possibilitar aulas mais atrativas com o uso de material disponível na internet deveriam ser ofertados dentro dos estabelecimentos escolares, constantemente.
Diante desse quadro só poderemos chegar à universalização do ensino médio com políticas públicas que pensem a educação como investimento e não como gasto. Se não encararmos a educação com seriedade e respeito, como compromisso por parte dos nossos governantes, e ver a educação como agente de transformação, será quase impossível revertê-lo. Por fim, a que se dar maior importância à questão da frequência dos alunos no decorrer do ano letivo. E, embora estejamos discutindo o Ensino Médio, não podemos deixar de lado asa questões da má formação destes estudantes advinda das séries anteriores.