Automedicação: um hábito nocivo que, despercebidamente, consome a população.
Automedicação: um hábito nocivo que, despercebidamente, consome a população.
Os problemas que a sociedade enfrenta a respeito do uso inadequado de medicamentos são inúmeros. Um deles ocorre quando parte da população que utiliza os serviços da farmácia pública não consegue ler as prescrições dos medicamentos; outro, quando há o uso do medicamento sem instrução. Isto pode acarretar sérias consequências para a saúde, gerando o hábito da automedicação. O que pode incorrer em sérias intoxicações provocadas por uso inadequando de medicamentos.
O Brasil é campeão da automedicação. Ir a uma farmácia real buscar por medicamentos genéricos ou de marca, com ou sem prescrição, é muito fácil. Com o advento da tecnologia, a internet também promove, acreditamos, que ainda mais, a facilidade de aquisição destes medicamentos, através de inúmeros sites e farmácias virtuais. Segundo Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica , “o que não faltam são opções de medicamentos e diversas facilidades para adquiri-los, até mesmo no conforto de casa”, é só clicar no site que os medicamentos chegam à sua casa sem haver o desconforto de ter que se locomover para tal fim.
Também não podemos deixar de apontar a precariedade em que se encontra o sistema público de saúde. Muitas vezes, a automedicação é uma opção muito mais atraente e simples do que enfrentar horas e horas nas filas dos postos médicos e hospitais, para marcar uma consulta médica e tomar conhecimento do medicamento mais indicado, posologia, contraindicações e possíveis efeitos colaterais; buscar uma terapia medicamentosa. Em muitos casos, os sintomas passam antes mesmo dos pacientes poderem ser atendidos por um médico. Então, recorre-se a automedicação por causa da praticidade.
Segundo a publicação de J. Gonçalves, de acordo com dados do Centro Integrado de Vigilância Toxicológica da SES, em 2014 foram registrados 378 casos de intoxicação por medicamentos em Mato Grosso do Sul. Dados da Fiocruz apontam que aproximadamente 30% dos casos de intoxicação acontecem por uso indevido de medicamentos, sem orientação médica ou por aumento de dosagem por conta própria. São dados alarmantes que devem colocar as autoridades e a população cientes deste problema e buscar soluções rápidas e funcionais. Lopes também diz que:
“pouca gente imagina, mas os medicamentos são o principal agente causador de intoxicação em seres humanos no Brasil, ocupando, desde 1994, o primeiro lugar nas estatísticas do Sistema Nacional de Informações Toxico-Farmacológicas - SINITOX. As crianças menores de 5 anos representam cerca de 35% destes casos de intoxicação”.
É um risco muito grave que a população enfrenta sem se dar conta de sua importância. Parece que o hábito nocivo de automedicar-se e ainda prescrever medicamentos a familiares, amigos e parentes está arraigado na cultura popular, como solução mais simples para tratar de enfermidades. Não há preocupação quanto ao conhecimento de efeitos colaterais que podem ser prejudiciais ao organismo, sobretudo aos órgãos vitais como: rins, fígado, pulmões, sistemas nervoso e circulatório, dentre outros. Nem tão pouco, atenção ao surgimento de outras complicações ou doenças ocasionadas pelo mau uso dos remédios.
Lopes, também ressalta que a “população precisa ser informada, conhecer os riscos relacionados aos medicamentos” e, além disso, “ter a oferta de um sistema de saúde adequado que leve o paciente a procurar pelo médico, e não pelo medicamento”.
Ele cita que, recentemente, providências foram tomadas contra o abuso dos antibióticos cuja venda é controlada e somente realizada mediante retenção de uma via da receita médica. Pois a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) objetiva combater a potencialização e o desenvolvimento de bactérias cada vez mais resistentes devido ao uso indevido ou incorreto dos antibióticos. Também sugere que o mesmo seja feito quanto ao uso dos anti-inflamatórios, cujo uso também vem seguindo os mesmos moldes de automedicação. Estes medicamentos são adotados para todo o tipo de queixa, desde dores de cabeça, na coluna, dor de garganta, e outras mais.
Diante deste cenário, somente a educação da população, sobre este grave problema, pode ser a solução. Para se evitar esta situação, faz-se necessário incentivar a ampliação de campanhas que alertem os usuários sobre os perigos e grandes riscos que a automedicação pode provocar e, também orientá-los sobre como o uso adequado de medicamentos é essencial para o sucesso dos tratamentos que necessitam realizar, sempre com acompanhamento médico e de profissionais especializados. Outra solução que apresentamos é reivindicar ao poder público que faça o seu papel com maior eficiência, proporcionando um Sistema Público Nacional de Saúde, que realmente atenda às necessidades da população, aumentando a quantidade de médicos e profissionais de saúde que possam trabalhar em hospitais e unidades de atendimento médico capacitados com todos os equipamentos e recursos necessários. A Saúde é, indubitavelmente, o maior bem que se possui. A população brasileira, lutadora e guerreira, merece este benefício.
Bibliografia
GONÇALVES,J. Saúde alerta sobre riscos da automedicação e destaca campanha de conscientização. Notícia publicada em 05.05.15 por J. Gonçalves (jgoncalves@segov.ms ) em http://www.noticias.ms.gov.br/saude-alerta-sobre-riscos-da-automedicacao... acessado em 24.08.15
LOPES, Antonio Carlos. Automedicação: os riscos de uma atitude irresponsável. Publicado no Portal do Clínico – Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Em: view=article&id=2225:automedicacao-os-riscos-de-uma-atitude-irresponsavel-&catid=84:opiniao&Itemid=135 acessado em 24.08.15
ARRAIS,Paulo Sérgio D.; COELHO,Helena Lutéscia L.; BATISTA, Maria do Carmo D. S.; CARVALHO Marisa L.; RIGHI, Roberto E. & ARNAU, Josep. Perfil da automedicação no Brasil. Revista de Saúde Publica. Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, vol 31, nº1, Fevereiro 1997, p. 71-7. Em: http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v31n4/2212.pdf acessado em 24.08.15.
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