CADERNO IV – AREAS DO CONHECIMENTO E INTEGRAÇÃO CURRICULAR
O desenvolvimento da ciência no século XX dependeu substancialmente de um fato: quanto mais a ciência se especializou e se diferenciou, maior o número de novos campos que ela descobriu e descreveu. Na cadeia de produção do conhecimento inseriu-se o ensino, pois para que as pessoas possam compreender o mundo e produzir novos conhecimentos, é preciso que elas se apropriem de conhecimento já produzido socialmente ao longo da história. Porém, as disciplinas escolares, quando consideradas apenas como acerto de conteúdos de ensino, isoladas e desprendidas da realidade concreta da qual esse conceito se originaram, não permitem que o processo ensino-aprendizagem redundem efetivamente na compreensão da realidade pelo educando.
As áreas de conhecimento devem ser compreendidas como conjunto de conhecimentos cuja a afinidade entre si pode se expressar pela referência de um objeto comum não equivalente aos específicos de cada componente curricular, mas a partir do qual essas especificidades produzem permitindo uma integração mútua de conceitos, da terminologia, da metodologia e dos procedimentos de análise. Elas, na organização curricular, portanto devem expressar o potencial de aglutinação, integração e interlocução de campos de saber. Ampliando diálogo entre os componentes curricular e seus respectivos professores, com consequências perceptíveis pelos educandos e transformadoras da cultura escolar rígida e fragmentada, tendo a interdisciplinaridade como princípio.
A organização do currículo em áreas de conhecimento não deve substituir a especificidade de cada componente curricular. Em outras palavras, a compreensão do objeto mais geral da área não prescinde o estudo das particularidades desse objeto, e a relação entre elas deve ser construída como um todo orgânico, síntese das diversas dimensões que o compõem. Não estamos defendendo a compartimentalização e o isolamento dos saberes, muito pelo contrário, as áreas devem expressar uma interessante unidade composta por uma diversidade que se articula e se comunica entre si.
O que se compreende por ensino integrado, o que se espera integrar no currículo e no que essa integração contribuirá para a formação do estudante? Antes de tudo, queremos a formação integral dos educandos e, para isto, entendemos que o currículo deve integrar no seu desenvolvimento as dimensões da própria vida social, sintetizadas no trabalho, na ciência, na tecnologia e na cultura.
Entendemos como trabalho o modo como o ser humano produz para si o mundo, os objetos e condições de que precisa para existir. A cultura é o conjunto dos resultados dessa ação sobre o mundo. Não há, portanto, ser humano fora da cultura e, nesse sentido é absurdo considerar a existência de alguém que não tenha cultura. A cultura é o próprio ambiente do ser humano, socialmente formada com valores, crenças, objetos, conhecimento, etc. A ciência, como o produto do processo de hominização que só pode aparecer em suas fases superiores. A tecnologia não apenas utiliza o conhecimento da ciência como também o modifica, utiliza dados diferentes na pesquisa que realiza, construindo conhecimento próprio menos idealizado.
A formação humana coincide com a capacidade única de este ser transformar a realidade e, por consequência a si próprio. Ao transformar a realidade e a si mesmo pelo trabalho o ser humano produz também conhecimento, tecnologia, cultura.
A produção da existência humana por tanto se faz mediada, em primeira ordem pelo trabalho, o trabalhador recebe um valor por meio do qual ele pode satisfazer suas necessidades básicas. A educação que tem o trabalho como princípio educativo, por tanto, compreende que o ser humano é produtor da sua realidade por isso, se apropria dela e pode transformá-la.
O processo ensino aprendizagem contextualizado é um importante meio de estimular a curiosidade e fortalecer a confiança do educando, pois para formar integralmente os educandos implica não só que estes aprendam o significado e o sentido das ciências, das tecnologias, das práticas culturais etc., mas é preciso fundamentalmente formar as pessoas para produzirem novos conhecimentos, compreender e transformar o mundo em que se vive.
A construção da proposta curricular englobam, além do planejamento pedagógico propriamente dito, também as dimensões da organização do trabalho escolar, da gestão democrática, da eleição das lideranças, da autonomia da escola e da participação da comunidade.
O currículo envolve mais do que a dimensão ensino-aprendizagem, sua elaboração deve se basear nos seguintes eixos éticos-políticos: integração, trabalho, ciência, tecnologia e cultura; integração escola- comunidade; democratização das relações de poder; enfrentamento das questões de repetência e de evasão; visão interdisciplinar; formação permanente dos educadores.
O desafio que apresentamos, então é a de ultrapassar a escola como espaço curricular, estendendo planejamento e as práticas para outros espaços, que possibilitem incluir manifestações culturais, projetos e processos sociais na experiência escolar, de intervenção e de cooperação sistematizado em torno da construção do conhecimento.