ÁREAS DE CONHECIMENTO E INTEGRAÇÃO CURRICULAR Caderno IV
Colégio Estadual Ipê Roxo Ensino Fundamental e Médio.
Foz do Iguaçu - Paraná
Professores: Carina dos Santos, Ilda Aparecida de Souza, Lidiomar Teixeira da Silva, Marilda Lopes Cruz, Margarida de Souza, Marilene Benites, Patrícia de Souza, Robson Fagundes dos Santos,
Coordenadora: Roseli de Fátima dal Moro
ÁREAS DE CONHECIMENTO E INTEGRAÇÃO CURRICULAR
O projeto curricular e a relação entre os sujeitos e suas práticas cotidianas nos permitem refletir sobre a necessidade de considerar e incluir nos debates sobre novas maneiras de organizar o currículo para o Ensino Médio onde possa se valorizar nas ações pedagógicas aqueles conhecimentos que fazem parte do senso comum e que estão inseridos no contexto das práticas sociais, que são muitas e diversas, e que fazem parte do cotidiano dos alunos do Ensino Médio.
O conhecimento também acontece no contexto cultural e social em que os alunos vivem, nas relações e interações dos diferentes atores e elementos existentes na comunidade em que desenvolvem suas atividades diárias. Esses conhecimentos empíricos, que se fundamentam na experiência e na observação, devem ser relacionados com o conhecimento formal, científico, que foi culturalmente produzido e sistematizado pelas ciências. Pois essa relação entre o conhecimento que faz parte do senso comum com aquele que é oferecido pelo currículo oficial pode produzir e desencadear uma prática pedagógica com condições de influir no processo de aprendizagem e assim participar de maneira integral e na dinâmica da sociedade.
A estrutura lógica das disciplinas é importante, ajuda na formação dos alunos, mas não basta se considerarmos a forma como o mundo atual está organizado no que diz respeito ao conhecimento, as tecnologias, a informação, as questões culturais e o mundo do trabalho. Para que ocorra o tão almejado desenvolvimento integral dos nossos estudantes é preciso reorganizar o currículo para que o mesmo esteja próximo as necessidades materiais e intelectuais dos alunos, que são na sua grande maioria, alunos trabalhadores.
Além disso, é fundamental pensar a cultura, que deve ser feito em sentido amplo, já que todo ser humano é um ser cultural. Nenhuma pessoa pode ser considerada sem cultura. Na verdade, temos múltiplas culturas e o grande desafio da educação em todos os seus níveis é tornar significativo o conhecimento produzido historicamente pela humanidade, para os estudantes da educação básica, assim como do ensino superior.
A valorização do conhecimento deve estar relacionado a não hierarquização de determinada cultura sobre a outra, há a necessidade de compreendermos os contextos históricos, políticos, geográficos para a partir, disso analisarmos as suas manifestações culturais. Cada período terá condições distintas para desenvolver a ciência e a tecnologia que são demandas da própria sociedade para aquele contexto e tempo histórico.
Em se tratando especificamente do Ensino Médio temos que a formação deve possibilitar a esses sujeitos a transformação consciente de si mesmos, com a dialética entre a formação teórica e a práxis, que permitirá a construção e reconstrução de novos conceitos e formas de ser e estar no mundo.
Todo trabalho humano, demanda atender as suas necessidades, que serão diferentes dependendo do contexto. Quando o ser humano se apropria do conhecimento científico ele está instrumentalizado para realizar essa transformação de maneira consciente. No entanto não podemos ser inocentes, o objetivo do desenvolvimento tecnológico, muito mais que atender as necessidades humanas é o fortalecimento do capital na atualidade vigente.
A matéria-prima carvão é um instrumento que existe de melhor, segundo Van Gogh, os lápis produzidos pela Faber tem como objetivo atender necessidades distintas daquelas que só o carvão pode produzir, pois é necessário garantir que as nuances desejadas em cada situação e que cada artista deseja produzir com efeitos diferenciados. Ele aponta ainda que ao se inventar as penas com tinteiros para trabalhar talvez tivessem mais desenhos feitos a pena.
Nesse sentido o conteúdo poderia ser incorporado com o material em sala de aula para discutir a evolução cultural humana, desde o domínio do fogo, da agricultura, as primeiras civilizações, a Primeira Revolução Industrial e a Segunda Revolução Industrial e as inovações tecnológicas. Sempre levando o aluno a refletir sobre a finalidade do desenvolvimento tecnológico e a interferência que a ciência tem em nossa vida diária. O desenvolvimento sempre será dinâmico pois a vida social é também dessa forma.
Não há como pensar a cultura, a ciência e a tecnologia de forma isolada, pois se complementam. Assim como não se pode pensar a formação do indivíduo de forma isolada, como se a escola fosse algo descolado da sociedade. Somos parte da sociedade, os problemas a ela inerentes se apresentam na escola, nesse sentido a escola pode servir de manutenção ou de transformação individual e social. Mesmo sem ser redentora, é preciso compreender a escola como espaço de lutas e em que é possível o indivíduo se formar e tornar-se agente de transformação.
O trabalho é muito importante no processo estrutural da educação, pois este faz com que o ser humano se reconheça e assuma um papel de protagonista, apropriando-se dessa realidade e transformando-a. Por isso a necessidade de uma problematização histórica dos processos produtivos. Deve partir da escola o suporte base para fazer com que o ser humano entenda sua condição atual na sociedade e atue de forma consciente para transformá-la. É na educação básica que o indivíduo adquire conhecimentos que possibilitará uma inserção participativa e transformadora na sociedade em que se situa. Por isso que o contexto sociocultural deve ser uma constante no ambiente escolar.
A sociedade em que se situa a escola possui suas particularidades e são essas particularidades que devem ser levadas em consideração na construção da proposta curricular. Além do planejamento pedagógico o currículo deve englobar as dimensões que organizam o trabalho escolar como a autonomia da escola e a participação da comunidade; esta última de valor imprescindível, já que o indivíduo que a escola forma desempenhará ações que beneficiarão a comunidade. O planejamento deve ir além de sequências didáticas e métodos para aplicação de conteúdos pragmáticos. Deve dialogar com outras fontes, transitar por outros espaços, além do espaço físico escolar. Para a construção do conhecimento faz-se necessário um trabalho que envolva a comunidade, o espaço social em que a escola está estabelecida. As manifestações culturais e as atividades que a escola desenvolve devem estar direcionadas ao contexto social, uma vez que o indivíduo faz parte desse contexto. Entendendo o sujeito como um ser ideológico, temos a ideologia como a condição para constituição desse sujeito e é este que irá agir de forma significativa na sociedade. Como apresenta Orlandi (1990) o indivíduo estando diante de qualquer objeto simbólico e incumbido de interpretá-lo, irá questionar a sua função, o significado e o propósito, utilizando-se das evidências e relacionando-se com suas condições materiais de existência. A escola participa dessa construção ideológica e, por isso a necessidade de um planejamento que englobe outros espaços para uma melhor prática de ensino que facilitará a construção do conhecimento.
Elaboração coletiva da proposta curricular integrada
Consequências da implantação da hidrelétrica de Itaipu no rio Paraná articulando as disciplinas de sociologia, geografia, história, biologia e química, física e matemática.
1 - Que consequências políticas e econômicas ocasionaram a implantação da hidrelétrica nos países sede, Brasil e Paraguai?
2- Analisando o aspecto geográfico que modificações ocorreram tanto na cidade de Foz do Iguaçu, quanto nas cidades ribeirinhas atingidas?
3- Historicamente, que modificações foram impostas a população que habitava a região?
4- No aspecto biológico que impacto ocorreu na fauna e flora regional e o que é feito para recuperá-los?
5- Nas disciplinas de Química, física e matemática como pode ser analisada a tecnologia aplicada na produção da energia?
Nos países sede da hidrelétrica ocasionou uma situação de maior diplomacia política, desencadeando um desenvolvimento econômico através de geração de empresas voltadas à manutenção mecânica para a hidrelétrica.
As modificações geográficas ocasionadas nos dois países foram de grande impacto, porém a alteração demográfica teve consequências maiores no Brasil. Na cidade de Foz do Iguaçu o grande impacto foi uma explosão demográfica sem planejamento urbano que iniciou o processo de favelamento na cidade, o que criou um grave problema a ser solucionado pelas autoridades públicas posteriores.
E as modificações impostas a população, não só nas regiões ribeirinhas como em cidades que antes da construção tinha uma expressividade econômica no estado, tanto na produção agrícola quanto no turismo; como é o caso da cidade de Guaíra com as Sete Quedas do Iguaçu, foram de evasão do seu ambiente. E a não possibilidade de desenvolver suas atividades em novo espaço o qual foram sujeitados a ocuparem, gerou situações de subvalorização humana e consequentemente doenças que também acarretou problemas para a saúde pública.
Para a construção de Itaipu a rota do rio Paraná foi alterada gerando alagamentos em suas margens, o que afetou drasticamente a fauna e a flora regional e na tentativa de recuperar este bioma a mesma desenvolve trabalhos com pesquisadores através do refugio biológico de Itaipu e o corredor da biodiversidade como um facilitador do processo de reconstituição deste.
A tecnologia aplicada para a produção de energia implica nas disciplinas:
• Química – Análise fisioquímica da água utilizada na produção de energia elétrica, coletas de água antes da barragem e pós barragem para verificar parâmetros de DBO e DQO.
• Física – O trabalho e força da água direcionada pelo duto forçado que movimenta a turbina e gera energia elétrica.
• Matemática – A quantificação de energia gerada e distribuída para utilização na sociedade.
Da situação relatada no texto sobre o incêndio o problema vai muito além do fato de estarem em situação de uma área invadida de difícil acesso, para combater o fogo caso haja necessidade. Deve-se olhar pela ótica social o que levou estas pessoas irem buscar suas moradias neste local, elas tem consciência do perigo que correm fazendo ligações de luz clandestinas. O Estado é presente neste espaço, ele trata esta situação como prioritária.
Historicamente pode-se dizer que o Estado é sempre ausente nestes locais, sabem que eles estão lá mas nada fazem para melhorar suas condições sociais de moradia, estas pessoas têm voz somente quando fazem protestos ou acontecem incidentes como este do incêndio.
O papel da escola que atenda os educandos oriundos desta região pode dar voz a eles, de uma maneira diferente uma voz com conhecimento de seus direitos, mas também deveres.
A Escola é o espaço que possibilita reconhecer-se nesta sociedade, para deixarem de serem vistos como problemas e serem vistos como parte de um todo, isto só é possível quando a Escola constrói um currículo formal, mas que consiga englobar as necessidades latentes desta comunidade. Para tanto é necessário que se construa coletivamente este eixo norteador do trabalho docente, será então a primeira vez que terão voz e participação na sociedade efetivamente.
Nesta construção é necessário trabalhar as questões sociais: saúde, segurança, saneamento básico, energia, mas seus deveres com estas necessidades, ou seja, os mesmos devem pagar seus impostos e taxas que a Estada cobra, pois viver em favelas não é ser expurgado devem se sentir inserido em uma sociedade num todo.
Conceitos formais do currículo como Geografia, História, Ciências, Matemática, podem facilmente ajudar nas amarras da ligação do documento com a necessidade da comunidade atendida. Haja vista os moradores desta comunidade devem relacionar a ocupação do solo, a história do lugar, a ter princípios básicos de higiene e economia, tudo isso pode ser trabalhado em sala de aula e assim contribuir para a melhora na qualidade de vida destes.
Assim como no vídeo Em Busca de Joaquim Venâncio de Evandro Filho e outros (2009), temos esse “buscar” quem é nosso aluno na escola, quais as condições que ele mora, para saber os motivos que o levam a faltar nas aulas, o descomprometimento da família, o motivo de sua revolta, o fato de chegar atrasado e sempre com fome, com roupas sujas e até cheirando mal. Por mais que isso não faça parte do trabalho pedagógico ele se faz necessário, mas não consegue ser realizado por completo pois faltam profissionais qualificados para desenvolverem as tarefas específicas.Por exemplo, quando o aluno falta muitas vezes na escola, as faltas são enviadas ao FICA, e ao Conselho Tutelar que são os responsáveis de continuar essa investigação. O grande problema é a falta de profissionais contratados, que também não dão conta de todas as necessidades oferecidas por essas famílias.
Em nossa escola foi realizado um trabalho de pesquisa de identidade cultural no bairro onde foram resgatadas as várias histórias culturais dos primeiros moradores. Notamos que muitos não sabiam que o bairro foi criado a partir de um desfavelamento, e isso gerou e gera um conflito entre os moradores, e ainda trás problemas para nós educadores quando não conseguimos compreender a motivação de tais conflitos, pois o bairro é dividido em dois, o que gera preconceito entre os moradores. E para aumentar o caos dois novos bairros foram criados da mesma forma (desfavelamento) muito próximos, gerando conflitos entre os alunos.
Os mesmos não têm, conhecimento a relação de seus deveres e direitos, como a identidade da comunidade não latente em suas memórias, cabe a escola destruir a barreira que existe neste espaço social. Assim como este bairro a problemática estende-se a outros lugares no país como vemos na leitura do texto referente ao incêndio da Favela Em São Paulo, que pode-se assim explicitar suas mazelas.
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