Qual seria, hoje, o verdadeiro papel da escola dentro da sociedade? O que deve ser trabalhado, ensinado para nossos alunos, dentro da realidade que vivemos e que realmente os levem a ter o papel de protagonistas tanto na história particular de cada um, mas também no da sociedade como um todo?
O que vemos hoje é uma confusão geral. São tantos os teóricos citados, são tantos os caminhos e orientações apontadas que eu, assim como muitos colegas, nos sentimos perdidos, sem saber ao certo qual caminho seguir. Devemos seguir uma linha mais tradicional? Dar prioridade às tais necessidades da comunidade em que o aluno está inserido? Fixar-nos no “aqui e agora” deixando em segundo plano o conhecimento construído ao longo da história da humanidade? Voltarmo-nos para as necessidades do mercado de trabalho? Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas. Dúvidas que acabam compondo o quadro lamentável em que se encontra a atual educação brasileira.
Nunca se teve tantos recursos didáticos, tantos cursos de formação para professores, tantas oportunidades para nossos alunos. Então, por que a qualidade do nosso ensino está tão inferior a de tantos outros países? Por que nós, professores, vemos com um misto de tristeza e decepção nossos alunos não conseguirem aproveitar todo o seu potencial?
É claro que a escola atual não pode, em hipótese alguma, ser a mesma do século passado. Não pode nem mesmo ser a mesma de vinte ou dez anos atrás. As pessoas não são as mesmas, as necessidades são outras. A tecnologia muda a nossa vida de forma muito rápida. O próprio mercado de trabalho já não é mais o mesmo. Profissões antes tradicionais estão sumindo e outras estão surgindo. E, na sua maioria, exigem um outro tipo de profissional. O “apertador de parafusos” já não se faz tão necessário. O que se precisa, cada vez mais, são de profissionais criativos, com conhecimento, que pensem e criem novas formas, mais eficientes e baratas de se “apertar esses parafusos”. E a escola, onde fica nisso? Será que tem, da maneira como se posiciona perante a sociedade, condições de fornecer a seus alunos as ferramentas necessárias para enfrentarem esse novo mundo que se reinventa a cada dia de forma mais rápida?
Sinceramente? Não. Principalmente enquanto ainda se mantiveram os discursos antigos, que parecem extraídos de panfletos ideológicos da época da Revolução Industrial. Não enquanto a patrulha do “politicamente correto” estiver impondo seus discursos que acabam levando não a direitos iguais, mas sim a uma divisão cada vez maior e criando guetos pretensamente culturais. A escola está, cada vez mais, assumindo papeis que não são o dela. E com isso, o conhecimento que foi construído durante séculos através da história da humanidade, o qual nos proporcionou estarmos aqui, acaba ficando em segundo plano. O resultado de tudo isso? Alunos com um imenso potencial totalmente desperdiçado. Alunos que não escrevem e nem lêem com proficiência. Que não sabem Matemática o suficiente para utilizar no seu dia a dia. Alunos que são excelentes em aulas de Filosofia, Sociologia, mas não sabem utilizar as noções de ética, moral, civilidade na vida real. Alunos (e pais) que dão mais valor à nota do que aquilo que ela realmente representa. E que vêem a escola como algo descolado da vida real, apenas como uma etapa a ser vencida, seja do jeito que for.
É uma visão um tanto quanto pessimista? Sim. Mas com certeza, é compartilhada por muitos colegas que, por receio de serem taxados de retrógados, de “direita” e defensores do “capitalismo”, acabam optando por ficarem calados. Mas apesar da visão pessimista, acredito que se possa mudar este quadro e devolver à escola o seu papel fundamental dentro da sociedade, que é o de preparar as novas gerações para os desafios constantes que o mundo impõe. O de promover a liberdade de pensamento, a criatividade e a humanidade. O que só pode ser alcançado se houver uma mudança radical de rota na escola, que passa, inevitavelmente, pela reformulação do currículo, fazendo com que o mesmo contemple tanto as necessidades da sociedade atual quanto o conhecimento construído a duras penas pela humanidade.