Ao reler "A viagem do Beagle", a pesquisadora Sandra Selles, professora da Faculdade de Educação da UFF, quis saber se Darwin havia passado pelos arredores de sua casa, na Serra da Tiririca. A professora desconfiou do feito já que ele descreveu em seu diário sobre a passagem pelo Brasil, a presença de uma mata e relevo bem parecidos com o que lá existem. Sandra decidiu então pesquisar juntamente com Martha Abreu, do Departamento de História da UFF, como havia sido a viagem de Darwin pelo Estado do Rio de Janeiro.
Após muita pesquisa, as duas conseguiram traçar o caminho percorrido por Darwin no Estado. A idéia de ambas era aproveitar os duzentos anos do nascimento do naturalista para lembrar sua passagem pelo Rio. "Ele ter passado por aqui não foi só uma coincidência, mas uma oportunidade que nos permite aprofundar a reflexão sobre sua teoria." comenta Selles.
Depois de escreverem um artigo sobre o tema, as pesquisadoras criaram o projeto Caminhos de Darwin, em conjunto com o Ministério de Ciência e Tecnologia, a Casa da Ciência, o Departamento de Recursos Minerais do Rio de Janeiro, entre outras tantas entidades. Neste projeto, levaram professores e alunos de Ensino Médio e Fundamental para conhecer os lugares por onde passou o renomado cientista.
Para Martha Abreu, um dos grandes trunfos de se conhecer os lugares por onde passou Darwin é mostrar ao estudante como o pesquisador era um jovem sem nenhuma grande diferença, apenas um jovem curioso. "Ele acabou se tornando importante, mas não estava sozinho. Era fruto de uma sociedade e tinha um papel nela", diz. A professora Sandra Selles complementa: "O que eu acho de mais marcante em Darwin, se comparado a muitos naturalistas daquela época, é que ele não se conformou em apenas ver, ele ficou inquietado com aquilo que ele não sabia. Isso é muito legal para mostrar ao jovem que às vezes fica frustrado com a grande inquietude que tem."
Pelas trilhas de Darwin
A expedição Caminhos de Darwin foi uma celebração aos 150 anos da Teoria da Evolução. O projeto contou com a participação de doze cidades do estado do Rio de Janeiro e teve mais de quatro mil pessoas envolvidas direta e indiretamente. A escolha do roteiro pelos municípios de Niterói, Cabo Frio, Maricá, Saquarema, Barra de São João, Macaé, Conceição de Macabu, Rio Bonito, Itaboraí, Cabo Frio, São Pedro da Aldeia e Rio de Janeiro foi baseada em informações contidas no diário do cientista a respeito da geografia e fauna dos lugares por onde passou. Darwin permaneceu três meses no estado do Rio de Janeiro.
De acordo com a coordenadora do projeto Fátima Brito, a idéia principal da expedição foi criar um roteiro educacional permanente. Para isso, Fátima salienta a importância de estimular faculdades como a de Turismo a explorar em sua grade disciplinar o turismo científico como mais uma possibilidade. A coordenadora ainda ressalta que o intuito da expedição é despertar o interesse do município para que se aproprie do projeto.
A Casa da Ciência e o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) foram os grandes responsáveis pela efetivação do Caminhos de Darwin. Para o diretor do Departamento de Popularização da Ciência e Tecnologia do MCT, Ildeu de Castro Moreira, a expedição de Darwin deve explorar mais a área de biodiversidade dos municípios e ampliar o seu conteúdo cientifico. Ildeu salienta a atuação dos professores ao criarem projetos em seus municípios voltados para a área cientifica: “Abriremos editais do CNPQ para apoiar projetos que tenham como fim popularizar a ciência da região”.
Durante os quatro dias da expedição que ocorreu no ano passado, jornalistas, cientistas, alunos, professores e outros moradores das cidades envolvidas participaram de diversas atividades educativas e culturais, como esquetes teatrais e seminários sobre a geologia da região. Além disso, houve a inauguração de placas comemorativas em cada município, celebrando a passagem do naturalista por lá.
A presença do tataraneto de Darwin, o ambientalista Randal Kaynes, que acompanhou o grupo de 50 pessoas na passagem pelas doze cidades, motivou não só as escolas, mas também os moradores dos municípios. A presença de Kaynes chamou a atenção para a importância de se preservar o ecossistema e atrair o interesse dos alunos para o estudo de ciências.
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