OS DESAFIOS DA PARTICIPAÇÃO
MÓDULO I - ETAPA II - PÁGINA 20
A história da democracia brasileira está longe de se constituir em espaço de participação e cidadania. Não obstante o direito de voto universal que garante a democracia representativa em todas as unidades federativas, a efetiva participação no governo das instituições, dos estados e municípios ainda é um sonho distante.
No que se refere a educação e as escolas a participação é um grande desafio e que está longe de ser equacionado. Participar de modo efetivo nos destinos da educação e da escola implica compreender as relações de pluralidade e interação com toda a comunidade escolar com a respectiva mediação dos conhecimentos e dos recursos disponíveis na sociedade contemporânea.
Formar para a democracia e a participação é uma necessidade não compreendida como parte da formação inicial e continuada. Imprimir no processo de aperfeiçoamento docente o conceito político de cidadania e de participação ainda permanece no campo da “esperança”. Questões relativas a formação intelectual, prática pedagógica, carreira, salário, jornada de trabalho, número de alunos, sindicalização, infraestrutura, recursos pedagógicos normalmente não são vistos como elementos que implicam participação.
O extraordinário na escola é ver a comunidade escolar como sujeito da escola, pelo contrário, normalmente o que se vê são alunos, pais, professores, gestão sendo uma soma de elementos que formam um todo e não uma unidade. No conceito matemático se diria: são a soma das partes. Esta é uma situação que clama por mudança à luz das DCNEM.
Participar e construir uma escola participativa implica reescrever coletivamente todo o seu cotidiano incluindo aí as instâncias deliberativas e de identidade da própria escola. Neste contexto se inclui também a legislação sobre a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica (Decreto 6.755/2009).
As relações de cooperação, no trabalho coletivo começam pela possibilidade do diálogo com as diversidades de modo a construir coletivamente os projetos educacionais que tenham em conta direitos e deveres de todos os envolvidos na vida escolar.
Em atenção à proposta da atividade prevista na página 20 do primeiro caderno do segundo módulo, realizamos uma conversas com 10 das 15 turmas que trabalhamos na escola. Em uma das turmas uma aluna sabia que foi convidada para participar do Conselho Deliberativo Escolar, mas nunca participou de nenhuma reunião e nem tampouco sabia qual a importância e finalidade deste organismo para a vida escolar.
As críticas ao modo como é realizado o pre conselho e o conselho de classe são unânimes e nunca ouviram falar em pós conselho e o pior em tudo isso é que os problemas levantados no pre conselho nunca alcançam solução de descontinuidade, pelo contrário alguns até pioram depois de apresentados no conselho. Nossos alunos não sabem qual a importância do Grêmio Estudantil e pouco conhecem sobre a função dos presidentes de classe, professore regente e muito menos ouviram falar em PPP.
Diante deste quadro se aplica ao professor e à escola o conceito atribuído por Bernard Charlot: “Um trabalhador da contradição, nem herói nem vítima”. Será precipitado dizer que entre os problemas que precisam ser resolvidos com urgência na escola está a questão do empoderamento, do qual fala o módulo em questão. Naturalmente isso acontecerá mediante uma séria e comprometida formação continuada de docentes conforme se lê à pagina 18 do módulo I parte II do PNEM: “Ao enfatizar a importância da formação continuada de professores, coordenadores e gestores escolares, pretendemos destacar a função da escola como lugar de direitos e de deveres, de relação com a comunidade, por entender que é essa escola que pode ensinar cidadania”.
Porém ficam abertas ao diálogo as propostas da atividade a que se refere esta produção, na qual se propõe as seguintes questões para discutir com os professores cursistas: a) Quais são os problemas que precisam ser resolvidos imediatamente na escola? b) O que já foi feito para resolvê-los? c) Como cada segmento pode contribuir para mudar essa situação? Destaque as contribuições dos estudantes. Agora, encaminhe os registros desta atividade ao gestor e ao Conselho Escolar como con¬tribuição para a reescrita do Projeto Político-Pedagógico.
COMENTÁRIOS E OBSERVAÇÕES AO TEXTO:
O PROFESSOR NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: UM TRABALHADOR DA CONTRADIÇÃO
Bernard Charlot
Revista da FAEEBA – Educação e Contemporaneidade,
Salvador, v. 17, n. 30, p. 17-31, jul./dez. 2008 17
No texto em questão o autor argumenta sobre a necessidade de definir a missão do professor e da escola em meio às contradições. Para isso ele começa desmistificando o que chamamos de contradições da escola e da profissão e ajudando a perceber que estas são contradições da sociedade como um todo e que por consequencia a escola não estaria imune delas, posto que aí esteja inserida.
Fica bastante clara na posição do autor que os “problemas” na escola não podem ser tratados apenas sob o ponto de vista do pedagógico. Esta questão entende-se melhor transcrita: “As contradições relativas à escola são contradições sociais a respeito da escola e não contradições dentro da escola”.
E a partir desta convicção ele faz uma longa fundamentação sobre o papel social da escola e vice versa e conclui dizendo que esta interação contraditória é responsável pela desestabilização da função do docente.
No contexto da globalização aparece também no âmbito escolar e em alta escala a questão da eficácia, do resultado e da autonomia. Esta última é bastante mais ampla do que em outras épocas, mas por outro lado trouxe consigo a responsabilidade pelo sucesso ou pelo fracasso.
O mundo globalizado “quebrou as imagens” e também a do professor que agora já não é mais uma referência para os alunos que muitas vezes nem o incluem entre as fontes para obter informações sobre o mundo.
A sociedade de contradições torna o professor um indivíduo também contraditório. Por mais que ele sonhe com uma nova forma de se relacionar com os educandos continua repetindo práticas e conceitos já desacreditados e altamente questionados. Entre os exemplos pode ser citada a prática de atribuir nota como critério último para o processo avaliativo.
É verdade também que a missão de educar tem uma projeção simbólica e é sobre esta imagem que são projetadas todas as contradições sociais na maioria das vezes como se fossem restritas ao mundo da escola e da educação.
Ao longo da história não faltam ficções e até algumas situações reais de escolas ideais. Há as que são narradas a partir da realidade e delas temos livros, filmes portfólios e assim por diante. Há as que são produzidas a partir da ficção de autores e que tomo a liberdade de mencionar como a que vimos no filme “Sociedade dos poetas mortos” da década de 1990; ou Escritores da liberdade de 2007.
Nesta última professor e aluno são considerados impossíveis e estabelecem um processo de transformação que se dá por meio da busca de algo que modifique suas vidas. Comentando este filme Hannah Arendt, “aponta duas causas que podem ter relação profunda com a crise da educação em nossa época: a incapacidade de a escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade dos pais e professores”.
A partir destas narrativas parece ser possível ir além do que aponta Charlot, isto é, o professor não pode ser colocado nem na posição de vítima muito menos de herói. Para isso servem as palavras de Hannah Arendt: “Uma educação que não exercita o ato de pensar, com todos os seus riscos, além da própria ausência de pensamento, tem como efeito o não comprometimento, o não tomar decisões, ou não se responsabilizar por elas. “A tarefa fundamental do pensar é descongelar as definições que vão sendo produzidas, inclusive pelo conhecimento e pela compreensão e que vão sendo cristalizados na história". A tarefa do pensar é abrir o que os conceitos sintetizam, é permitir que aquilo que ficou preso nos limites da sua própria definição seja liberado. É livrar o sentido e o significado dos acontecimentos e das coisas da camisa-de-força dos conceitos” (CRITELLI, 2006, p. 80)
A nosso ver a afirmação de Hannah Arendt supera o que chamamos de “caça as bruxas” ou de quem é a culpa. Aberta esta consciência será possível compreender que o professor é aquele que aceita a dinâmica da sociedade e a incorpora no seu mundo. Neste contexto “negocia, gere a contradição, não desiste de ensinar e, apesar de tudo, mas nem sempre, consegue formar os seus alunos”.
Com certeza essa compreensão haverá de superar as dicotomias entre o que se costuma chamar de tradicional ou construtivista. Superada essa contradição ficará muito mais fácil fugir ao simplismo da busca de culpados ou da taxação de responsabilidades. Neste novo conceito professores e alunos, ora de mãos dadas ora por caminhos distintos compreenderão que “ensinar é ao mesmo tempo mobilizar a atividade dos alunos para que construam saberes” muitos deles apenas reescritos a partir do legado das gerações. As contradições da sociedade na qual a escola está inserida parece ser bastante reproduzida no interior da escola na medida em que todos os envolvidos no processo “interiorizam a notação como função central do ensino”
Sob esta ótica não se pode fugir da realidade das escolas cuja missão é universalista, mas que trabalha com indivíduos na sua particularidade. Isto significa dizer que a função universal da escola não é precisamente ensinar, mas facilitar que os alunos aprendam. Por conta da universalidade da escola não se pode imaginar que esta seja uma instituição sem regras ou normas, mas acima de tudo há que se compreendê-la como lugar no qual é facilitado ao ser humano tornar-se membro de uma sociedade e de uma cultura na condição de sujeito singular e insubstituível.
Com certeza sob esta ótica será possível fugir do que chamamos de dicotomia simplista, isso é, de quem é a culpa, ou qual a imagem do professor. Parece certo que se trata de um trabalhador da contradição. Ele vive entre a função de facilitar ao aprendente ir ao encontro da universalidade que permita compreender a vida e garantir a aprovação nas barreiras imediatas que a sociedade impõe como limites de crescimento.
Com toda a carga ideológica que a sentença pode ter, gosto muito do texto:
“Professor(a)!
Trago-te um recado de muitas pessoas.
Houve gente que praticou uma boa ação e manda-te dizer
que foi porque teu exemplo convenceu.
Houve alguém que venceu na vida e manda-te dizer
que foi porque tuas lições permaneceram.
E houve mais alguém que superou a dor e manda-te dizer
que foi a lembrança da tua coragem que o ajudou.
Por isso que és importante. O teu trabalho é o mais nobre.
De ti nasce a razão e progresso, a união e harmonia de um povo.
E agora... Sorri!!!
Esquece o cansaço e a preocupação porque há muita gente
pedindo a Deus para que sejas muito feliz.” (Autor desconhecido).
- Logue-se para poder enviar comentários